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Dores de crescimento

Quer na Madeira como no resto do país, a empresa média tem uma dimensão reduzida ou, como é comum dizermos, o “tecido empresarial tem uma dimensão reduzida”.

Não só somos povoados por PME como temos das PME mais P da Europa. E falamos de uma Europa que só tem 4 das 50 maiores empresas do mundo. Segundo um relatório recente da Associação Business Roundtable Portugal por cada grande empresa existem 371 microempresas, 19 pequenas e 4 médias.

Segundo o mesmo relatório, grandes empresas apresentam maior produtividade e sistemas de inovação mais desenvolvidos, com as 0,3% de grandes empresas do país a serem responsáveis por 33% do Valor Acrescentado Bruto (VAB), e por 21% dos colaboradores do país, pagando salários substancialmente superiores aos pagos pelas PME.

Têm também a melhor performance em vários indicadores: maior presença internacional, acesso ao mercado de capitais, capacidade de inovação e resposta às alterações climáticas.

Ter muitas pequenas empresas não é o problema. O problema é não haver médias e grandes.

Num momento em que as empresas europeias terão que competir num mercado internacional dinâmico, e em que precisamos de recuperar anos de atraso em inovação, criar condições para o crescimento empresarial é urgente.

Existem várias razões para a reduzida dimensão das empresas: mercado interno pequeno, excesso de burocracia, cultura empresarial e governance que não promovem consolidações nem participações cruzadas, além do baixo nível de escolaridade e fraca adoção tecnológica.

Ausente desta lista está a razão que considero mais relevante: a inexistência de um mercado de capitais funcional, de fácil acesso e com baixos custos de entrada.

Nas economias líderes mundiais, todas passaram por grandes fases de consolidação via fusões e aquisições.

O setor bancário americano passou de 14.000 bancos em 1984 para 4.400 em 2020, apesar do crescimento do setor. Na Alemanha, o setor automóvel consolidou-se desde os anos 50. No Japão, aconteceu o mesmo nos dois setores.

Em Portugal temos um setor financeiro pouco musculado e ainda com limitada presença fora da banca comercial. Não temos capital financeiro acumulado suficiente para que hajam fundos privados ativos e materiais – salvo raras exceções – e o pouco capital disponível é frequentemente aplicado noutras geografias com um retorno expectável superior.

Aumentar a dimensão média das empresas é fundamental. Mas esta prioridade não consta dos programas políticos nem do debate público.

Precisamos de mais incentivos à capitalização, formação, adoção de tecnologias disruptivas, reforço do setor financeiro (não invejo o partido que o tente), simplificação da burocracia e dos quadros legais para fusões e aquisições, e, acima de tudo, resolver o problema judicial do país, para que os investidores saibam que podem resolver diferendos com sócios em tempo útil.