30 anos: clássico ou semi-novo?
Um carro com 30 anos já pode ser considerado clássico. Certas árvores, com essa idade, ainda são jovens. E um ser humano de 30 anos, é o quê?
Num mundo onde parecer vale mais do que ser, há trintões que se sentem prontos a estrear e outros que se acham velhos para convívios sociais. Uns agarram-se à juventude com saídas, copos e redes sociais. Outros já trocam tudo isso por uma casa própria, filhos e responsabilidades.
Os 30 são um marco. Para alguns, é a porta de entrada na vida adulta a sério. Para outros, é só mais uma curva na estrada da liberdade. Se na geração dos nossos pais esta idade era sinónimo de estabilidade, família e trabalho fixo, hoje muitos ainda lutam por um contrato decente, uma casa que não custe um rim e, em alguns casos, até por um propósito de vida.
O mundo mudou. E a nossa geração, ao contrário das anteriores, parece não saber bem onde se encaixar. Quem não tem aquele amigo solteirão que ainda não falha uma saída? Ou aquele que desapareceu do mapa porque agora a sua vida se resume a fraldas e prestações do crédito habitação?
Nesta década, o corpo começa a dar os primeiros sinais de uso — uma dor no joelho aqui, um cansaço acumulado ali. A saúde mental cobra a fatura, e a pressão para “ser alguém na vida” nunca foi tão alta. É uma altura de escolhas, talvez a mais importante. Decidir como queremos fazer os próximos quilómetros pode ser a chave para tornar os 30 na melhor década da vida.
E já que falamos em quilómetros, não dá para ignorar a escolha do copiloto. Seja num relacionamento ou numa amizade, nesta fase o alinhamento de visão faz toda a diferença. Seguir viagem ao lado de alguém que quer acelerar quando queremos travar, ou que só vê curvas onde vemos estrada aberta, pode tornar o percurso mais difícil do que precisa de ser. Afinal, conduzir sozinho pode ser solitário, mas conduzir com o passageiro errado pode ser um pesadelo.
Mas não sejamos dramáticos. Se os nossos pais conseguiam tudo — casa, filhos, férias pagas e um trabalho estável —, por que é que nós não conseguimos? Bom… talvez porque estamos a tentar colher frutos de uma árvore que nunca chegámos a plantar. Entre salários congelados, inflação e uma economia de incerteza, muitos de nós vivem no fio da navalha. Uns jogam pelo seguro, outros preferem a adrenalina de não saber se vão poder reformar-se ou se precisam de arranjar mais um part-time.
No fim das contas, a questão mantém-se: está na hora de mudar os pneus deste semi-novo ou de trocar este clássico?