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A sexta é dos “Queen”!

“Imaginem o compositor soltar todo o catálogo dos Queen, uma vasta orquestra e um grande coro. Aí a vossa imaginação irá aproximar-se da ideia de onde esta obra começa.” Assim falava Brian May, o membro da célebre banda Queen.

De Izmir (Turquia), Bruges (Bélgica), Ópera de Sydney (Austrália), Seul (Coreia do Sul) e Niágara (Estados Unidos), a Edimburgo, Singapura, Berlim e várias cidades no Reino Unido, a “Queen Symphony” continua a ser apresentada regularmente pelo mundo fora, desde a sua estreia em Londres, em 2002. Apenas 10 dias atrás foi executada na cidade de Eglinton, no Canadá, e em agosto será no programa da Casa da Música no Porto, interpretada pela Orquestra Nacional de Jovens e dirigida pelo maestro português Cristiano Silva, ex-aluno do próprio compositor.

Frequentemente, a apresentação desta obra teve a finalidade de beneficência – um atributo que caracterizou também a talvez mais icónica atuação dos Queen, no âmbito do festival LiveAid, em 1985.

É com a mesma finalidade que o público madeirense vai ter a oportunidade de presenciar ao vivo uma interpretação desta obra, já na próxima sexta-feira, no Centro de Congressos da Madeira. O destinatário da receita deste concerto solidário será a Associação de Paralisia Cerebral da Madeira. Desta feita, a sinfonia será apresentada numa versão, também largamente utilizada, para banda sinfónica, que neste caso particular será composta pela Banda Militar da Madeira e orquestras de sopros do Conservatório – Escola das Artes da Madeira, e contará ainda com a participação do Coro Juvenil do Conservatório e do Coro de Câmara da Madeira.

Tolga Kashif, o compositor da “Queen Symphony”, é de origem turco-cipriota e demorou dois anos a terminar a obra. A estreia em 2002, pela Royal Philharmonic Orchestra, em Londres, foi transmitida ao vivo para telespectadores europeus e teve uma ovação em pé por mais de duas mil pessoas presentes, entre eles, alguns membros da banda e a mãe de Freddie Mercury.

Em 1974, foi mesmo este carismático músico que disse que gostaria que as pessoas realizassem as suas próprias interpretações das canções da banda, e foi isso mesmo que Kashif fez. Embora enraizada na tradição clássica ocidental, a obra incorpora diversas influências, entre elas o rock, a música medieval, a música romântica e a ópera. Kashif caracterizou a obra como “nem clássica nem popular”. Entre um clima em que a música clássica está a lutar para atrair o público da geração dos “baby-booomers”, e em que a nostalgia da geração que cresceu com os “Queen” continua forte, esta simbiose parece plenamente justificável.

Ao mesmo tempo, a obra continua uma tradição presente de longa data na música sinfónica ocidental, desde Haydn a Beethoven e Mahler, a de transformar géneros de música popular numa arte mais elevada. Mais recentemente, no fim dos anos sessenta, iniciou-se assim a experiência do rock sinfónico, com os Deep Purple a atuar com a Orquestra Filarmónica de Londres (Concerto para grupo e orquestra), num concerto do qual saiu uma gravação ao vivo de importância histórica.

A obra foi concebida em seis andamentos nos quais são referenciados alguns dos maiores êxitos da banda de Freddie Mercury, tais como “Bohemian Rhapsody”, “We Will Rock You”, “We Are the Champions”, “Radio Gaga” e “Who Wants to Live Forever”. No entanto, o compositor introduziu também o texto e o estilo de missa de réquiem típica medieval, propondo assim uma mensagem de paz e reconciliação. Utilizando no todo uma dezena de canções, Kashif imbuiu a obra com uma característica que não é imediatamente associável aos Queen – a subtileza. Não se deixando prender pela forma das canções, ele consegue utilizar motivos e refrãos imediatamente reconhecíveis para os incorporar num tecido orquestral fluido e elegante, chegando a momentos de grandeza e elevação emocional pelas quais Brian May opinou que “a tradição romântica está viva e está-se bem em Tolga Kashif”.

Quer seja um fã convencido dos Queen, um melómano com afinidade pela música clássica, ou simplesmente um curioso à procura duma experiência inesquecível, será impressionado tanto pela sua grandiosidade como pela intimidade. E quando a isso ainda se alia a causa altruísta, não há como dizer não.