Estabilidade (podre) política
Neste artigo de opinião, vou suscitar mais dúvidas e questões, que penso serem comuns com muitas das vossas inquietações. Enquanto se assiste ao longo desmoronamento do edifício institucional da política e da democracia, há entre nós muitos “institucionalistas”, de interesses mais ou menos velados, que se aprestam a estacar a queda desse maltratado edifício, como quem tenta salvar uma bananeira em plena ventania.
Portugal está num ciclo de instabilidade política, por causas endógenas ao exercício da política e dos seus protagonistas. Quando assistimos a tanto voluntarista armado em benigno bombeiro, a apelar a que se feche os olhos a tanta dúvida e suspeição, numa condescendência irracional, convém de facto, a não lhes dar ouvidos, pois, o valor da estabilidade não é um fim em si mesma, mas antes um meio apreciável, mesmo em conjunturas complexas da geopolítica, como as atuais. Vem isto a propósito das prováveis eleições legislativas nacionais antecipadas que se prevêem somar, a curto trecho aos demais momentos eleitorais que nos brindarão ao longo deste ano, do início do próximo enquanto desfile carnavalesco eleitoral que dura já desde o pretérito ano. Com todo este descalabro nacional e regional, há várias dúvidas que me assolam.
Estaremos a ser demasiado exigentes com os nossos líderes políticos, ou, a classe política está num processo de degenerescência e putrefação?
Teremos de alargar o cinto das incompatibilidades, dos pergaminhos éticos e da conduta de modo a preservar maior estabilidade?
Terá razão o presidente da Assembleia da República quando afirma que qualquer dia ninguém quererá abraçar o serviço público?
O novo normal é aplaudir os arguidos e suspeitos de prevaricação em funções públicas?
É achar normal que lhes dediquemos reverência, enquanto se refugiam na teia de imunidades e privilégios a que o comum mortal não alcança?
Que podem as campanhas eleitorais fazer, para em tão pouco tempo, tentarem captar a adesão popular que não conseguiram há tão pouco tempo? Irá ser a qualidade e quantidade dos brindes do engodo? Será dar ainda mais palmadinhas nas costas e mãozadas? Aquela atenção especial e anotação enquanto condimento teatral? A quantidade de vídeos pueris nas redes sociais?
E os cartazes que proliferam por aí, naquela habitual poluição visual e “mental”?
É interessante observar as distintas estratégicas daqueles partidos, que reforçam as grandes faces e nomes dos candidatos, e por outro lado, os cartazes envergonhados sem faces, nem nomes gastos e/ou maculados. Mas, mais interessante é observar os “provedores” da casta moralidade, que criticam os cartazes satíricos, que com mais, ou menos piada, passam uma mensagem subtil e percetível a todos.
É de rir às barrigadas, a pretensa seriedade de alguns candidatos, que se apartam da governação partilhada recente com medidas inovadoras, que nunca foram capazes de impor no leito da relação.
Por fim, uma linha a propósito do recente Dia da mulher: enquanto as mulheres aceitarem como normais, as quotas a elas dedicadas, secundando as suas próprias competências entre flores e jantares, jamais se emanciparão.