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Análise

Baralhar e dar de novo

As listas de candidatos a deputados apresentadas pelos partidos da Região revelam poucas caras novas e medo em inovar e surpreender. À excepção da Iniciativa Liberal que mudou de coordenação, os restantes limitaram-se a reconduzir a esmagadora maioria dos deputados eleitos em 26 de Maio de 2024. O sinal transmitido é de continuidade, havendo apontamentos cirúrgicos no PSD e no PS. No primeiro Rafaela Fernandes entra para a quinta posição, sendo certo que não fará parte de um novo executivo no caso de Miguel Albuquerque voltar a ganhar as eleições e ser convidado a formar governo. Os socialistas reservaram também a quinta posição para Gonçalo Leite Velho, coordenador dos estados gerais e única novidade da lista. Tanto num caso como no outro “renovação” é uma palavra fora do dicionário. O que revela muito do posicionamento dos partidos para o próximo embate eleitoral. A experiência política é a receita seguida, com o PSD e PS a garantirem respaldo parlamentar aos seus autarcas em limite de mandato. (‘Roma’ não abandona os seus fiéis amigos). No caso de Câmara de Lobos, Miguel Albuquerque arrumou também com a dúvida sobre o candidato a presidente do município. Celso Bettencourt tem caminho livre.

Ninguém quis arriscar, nesta corrida ao voto, uma abertura à sociedade civil nem a novas tendências. Nesta equação, o JPP acalma o nervosismo interno, puxando Filipe Sousa para segundo e no Chega quem manda é André Ventura que, como se sabe, faz tábua-rasa de qualquer autonomia que a estrutura regional, em guerra aberta por causa das listas, possa ter.

Com a campanha eleitoral já na estrada cabe agora aos candidatos dissecarem o programa e as propostas para um novo mandato parlamentar. Mas o que subsiste neste arranque é a ligeireza com que se promete mundos e fundos sem se acautelar o tão aconselhado bom rigor orçamental. Há propostas delirantes postas a circular que nunca terão cabimento. Aumentar a despesa e baixar a receita é uma fórmula enganadora de atrair eleitorado, a menos que haja petróleo escondido nos mares da Região. A Madeira precisa de propostas sérias, ancoradas à realidade, que lhe permita recuperar o tempo perdido entre o chumbo do orçamento para 2025 e a realização de novas eleições. Recusa folclore, demagogia, contra-informação e destilamento de ódio nas redes sociais, fomentada por agentes políticos irresponsáveis, cujo principal objectivo é servirem-se do sistema e lançarem a confusão para alcançarem o número de votos que lhes permita a eleição.

O futuro colectivo precisa de estabilidade e maturidade política. A caminho do meio século da autonomia política a Madeira precisa de resolver, a breve prazo, questões fundamentais, como é a da mobilidade, a quebra demográfica, lares para os idosos, Lei das Finanças Regionais, só para citar quatro.

Que esta oportunidade não se resuma à fatalidade do ditado popular ‘baralhar e dar de novo’.