Surgiu no panorama político regional em jeito de candidata revelação nas Legislativas Regionais de 2023, ao substituir Joaquim Sousa como cabeça-de-lista do PAN quase à boca das urnas.
Com apenas 27 anos, levantou muitas sobrancelhas, suscitando a pergunta óbvia: “Quem é esta miúda?”
Hoje, com lugar (conquistado e reconquistado) no Parlamento madeirense, Mónica Freitas dispensa apresentações “oficiais”. Mas quem é a jovem mulher por detrás da candidata do partido Pessoas-Animais-Natureza às eleições de 23 de Março?
Mónica Alexandra Soares Freitas Marciel nasceu na freguesia de São Pedro, no Funchal, em 28 de Novembro de 1995 e reside no concelho de Santa Cruz.
Diz-se “orgulhosamente sagitariana”, signo do zodíaco associado a uma personalidade energética, optimista, livre e idealista, que parece coadunar-se com o seu percurso como assistente social, voluntária e activista.
Os primeiros passos no associativismo foram dados no Grupo Folclórico e Etnográfico da Boa Nova, do qual fez parte durante cinco anos.
Na adolescência e já mais a sério, esteve associada a uma campanha anti-bullying, entre 2011 e 2013.
Este foi, aliás, o seu primeiro projecto de âmbito internacional. Aos 15 anos realizou um Erasmus com a Finlândia e, depois, aos 17, fez voluntariado no país nórdico, no âmbito da Educação, durante 5 meses.
Em 2014, Mónica Freitas abraçou o projecto 'Girl Effect', um movimento de “empoderamento feminino”, ao qual deu seguimento em Coimbra, no ano seguinte, quando ingressou Universidade.
Eu sou assistente social, que é a minha formação. Tenho licenciatura em Serviço Social, tirada em Coimbra. Sempre fui muito atenta às necessidades e às problemáticas da Região e sempre tive um espírito muito activista (...). Têm sido, sobretudo, movimentos associados à questão dos direitos das mulheres e da igualdade género Mónica Freitas, em entrevista, ao DIÁRIO em Agosto de 2023
Na "cidade dos estudantes" continuou a defender os direitos das mulheres, tendo participado em manifestações pela eliminação da violência contra as mulheres, mas também pelo fim da garraiada, demonstrando também preocupação com a causa animal.
Em 2017, o activismo levou-a mais longe. Mónica Freitas representou as jovens portuguesas na reunião anual da Comissão para o Estatuto da Mulher da ONU.
Dessa passagem por Nova Iorque partilha também com o DIÁRIO uma fotografia ao lado da estátua ‘Fearless Girl’ [em português: rapariga sem medo], que desafia o famoso do touro de Wall Street. Esta escultura de bronze, de Kristen Visbal, simboliza o movimento feminista e a luta pela igualdade de género, com os quais Mónica se identifica.
Talvez por isso, a revelação do seu ídolo musical pareça surgir aqui quase como consequência.
A cantora norte-americana Pink por ser uma artista completa, irreverente, que se mantém fiel a ela mesma e que através da música passa a sua mensagem Mónica Freitas
Na mesma linha, através do Graal, Mónica Freitas participou numa formação de jovens mulheres em liderança, em Moçambique, em 2018.
No mesmo ano, funda a Associação ‘Womaniza-te’, dando continuidade ao trabalho incitado com o projecto ‘Girl Effect’, na Região Autónoma da Madeira.
Esta Associação Juvenil sem fins lucrativos tem como objectivo a promoção da igualdade de género e cidadania, organizando palestras, acções de sensibilização e outras campanhas on-line.
Em 2022, a Womaniza-te organizou a exposição artística intitulada ‘A arte de nos virmos’ sobre o orgasmo feminino, na qual participaram a sexóloga Tânia Graça e a artista e curadora Maria Caetano Vilalobos.
Mónica (comprova-o o seu percurso) não tem medo de se bater pelas causas em que acredita, mas também tem "samba no pé". Afinal já participa no Carnaval, desde 2014, no grupo Fitness Team.
Entre 2019 e 2021, também deu aulas de zumba o que provavelmente lhe deu impulso para abraçar o desafio seguinte: entrar na vida política.
Recebeu o convite para fazer parte do PAN em 2021, sendo filiada desde 14 de Maio de 2022.
Foi, entretanto, escolhida para “representar integralmente os valores de protecção ao ambiente, defesa dos direitos humanos e dos animais e promoção do desenvolvimento sustentável” defendidos pelo partido e conseguiu eleger-se como deputada.
Sendo de um partido animalista, não lhe poderia faltar uma companheira de quatro patas. “Tenho uma cadela, chama-se Lilo e tem dois anos e meio”, revela.
Ainda fora dos 'palcos' da política e no contexto das artes, Mónica Freitas já participou em performances de teatro do oprimido e teatro de rua. A primeira pela Associação Olho.Te, da qual é presidente da assembleia e a segunda como voluntária e associada do Teatro Metaphora, que a levou a participar de várias formações internacionais, entre 2019 e 2023.
Nas escolhas alimentares, assim como na política, Mónica Freitas é “flexitariana”.
No primeiro caso – explica-nos – que significa que aposta “numa alimentação preferencialmente de origem vegetal e na redução do consumo de carne”.
Já na política, atrevemo-nos a dizer que agarra as oportunidades que vão surgindo para que o PAN continue a ser “a voz dos jovens e das mulheres” na Assembleia Legislativa Regional. Talvez por isso, encare com naturalidade o tão falado acordo de incidência parlamentar que viabilizou o Governo PSD/CDS, saído das Legislativas Regionais de 24 de Setembro de 2023.
O feito deu que falar também num dos programas de humor mais conhecidos da televisão nacional, ‘Isto é Gozar com Quem Trabalha’.É que nas horas vagas, Mónica Freitas conduz o podcast ‘masturbador virtual’ para “quebrar tabus” e abordar questões relacionadas com a sexualidade.
Ricardo Araújo Pereira não podia deixar passar a piada sobre as ‘geringonças’ da “região autónoma” de Mónica:
Coligação na Madeira com o PAN está … bem esgalhada!
Uma outra perspetiva da representante do partido PAN que permitiu a Miguel Albuquerque alcançar a maioria parlamentar.
Achei incrível o podcast ter tido essa visibilidade e eu adoro humor. Sou fã inclusive de humor negro. Acho o Ricardo Araújo Pereira um humorista muito inteligente e que pegou muito bem no podcast. Ri-me imenso e fiz questão de partilhar. Tenho muito orgulho nos projectos em que participo. Não estamos a fazer mal a ninguém e sou eu mesma Mónica Freitas
Volvidos oito meses das últimas Regionais, a deputada única do PAN voltaria a ter uma palavra a dizer, desta feita na queda desse mesmo Governo, ao retirar a confiança política a Miguel Albuquerque.
Eu acho que as pessoas entenderam como um acto coerente e acho que foi o momento chave, em que as pessoas perceberam que o nosso acordo de incidência parlamentar em nenhum momento colocou em causa a nossa identidade, os nossos princípios e os nossos valores. E também foi a prova viva de que, quando chega realmente às linhas vermelhas, o PAN mete um travão e sabe quando é a hora de ter uma postura diferente Mónica Freitas, em entrevista ao DIÁRIO, em Maio de 2024
Mais ou menos contestada, uma coisa é certa: a decisão valeu a Mónica Freitas a reeleição nas últimas Regionais Antecipadas, onde foi a única mulher a concorrer como cabeça-de-lista.
Mónica Freitas prepara-se, agora, para novo escrutínio, no próximo dia 23 de Março, o terceiro em cerca de um ano e meio.
Por tudo isto, parece-nos adequado trautear a sua música favorita (da Pink, claro está):
“You can call me irrelevant, insignificant, you can try to make me small (…) I won't call on you at all” [em português: “podes chamar-me de irrelevante, insignificante, podes tentar fazer de mim pequena (…) mas eu não vou recorrer a ti para nada”].