Maduro discute com Guterres "escalada das ameaças" de Washington
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, transmitiu hoje ao secretário-geral da ONU, António Guterres, preocupação com a "escalada das ameaças" ao seu país, após o "bloqueio total" imposto por Washington a petroleiros venezuelanos, anunciou a diplomacia de Caracas.
"O chefe de Estado denunciou ao secretário-geral as recentes declarações públicas do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (...) nas quais afirmou, de forma inaceitável, que o petróleo, os recursos naturais e o território venezuelanos lhe pertencem", segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Venezuela.
Na conversa mantida por telefone, Maduro "sublinhou que estas declarações devem ser categoricamente rejeitadas pelas Nações Unidas, uma vez que constituem uma ameaça direta à soberania, ao direito internacional e à paz", acrescentou o comunicado.
O ministério referiu ainda que Maduro alertou para "a escalada de ameaças contra a Venezuela e as suas graves implicações para a paz regional".
No telefonema, António Guterres reafirmou, por seu lado, a posição da ONU de que os Estados-membros devem "exercer moderação, reduzir as tensões e preservar a estabilidade regional", de acordo com um comunicado da organização, adicionando a necessidade do respeito do direito internacional e da Carta das Nações Unidas.
O Governo venezuelano alega que Donald Trump "pretende impor, de forma absolutamente irracional, um alegado bloqueio naval militar" com o objetivo de "roubar as riquezas" do país sul-americano.
Maduro acusa ainda o homólogo da Casa Branca de violar "o direito internacional, o livre comércio e a liberdade de navegação", o que classificou também como uma "ameaça grave e temerária".
Trump anunciou que vai fazer uma declaração à nação na noite de hoje (madrugada de quinta-feira em Lisboa) sem especificar o tema, mas que poderá estar relacionada com a crise.
A sua porta-voz referiu apenas que vai abordar a ação da sua administração nos primeiros 11 meses do segundo mandato presidencial.
Na semana passada, o Comando Sul dos Estados Unidos, que atacou mais de três dezenas de embarcações e executou 95 tripulantes alegadamente ligados ao narcotráfico nas Caraíbas e no Pacífico Leste, apreendeu em águas internacionais o petroleiro Skipper, que transportava crude venezuelano.
Os Estados Unidos também reforçaram a presença militar no mar das Caraíbas desde agosto, sob o argumento da luta contra o narcotráfico, enviando para a região em outubro o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, com cerca de 5.000 militares a bordo e 75 aviões de combate, incluindo caças F-18, com uma escolta de cinco contratorpedeiros.
No final de outubro, o número de soldados norte-americanos no sul das Caraíbas e na base militar dos Estados Unidos em Porto Rico ascendia a 10.000, metade dos quais a bordo de oito navios.