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Fact Check Madeira

Baixo desemprego deve-se a programas de ocupação?

Foto Shutterstock
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O desemprego registado na Madeira atingiu, em Outubro de 2025, o quarto número de pessoas mais baixo dos últimos 22 anos, apenas superado pelos três meses anteriores. Na prática, depois de atingir os 5.419 desempregados em Julho, esse número subiu para 5.442 em Agosto, 5.467 em Setembro e, agora, nos últimos dados conhecidos a meio da semana apontam para 5.507 pessoas sem trabalho e inscritas no Instituto de Emprego da Madeira e à procura de trabalho. Ou seja, apesar da tendência de subida, mantêm-se registos historicamente baixos, sendo que este é o Outubro, efectivamente, com mínimo dos últimos 23 anos. 

Madeira atinge mínimos históricos de desemprego em Outubro

De acordo com os dados mais recentes, divulgados esta quinta-feira, 20 de Novembro, estavam inscritos, em Outubro de 2025, 5.507 desempregados no Instituto de Emprego da Madeira (IEM).

Mas será que estes números são 'martelados'. Ou seja, não espelham a verdadeira dimensão do desemprego na Madeira. É frequente os leitores do DIÁRIO colocarem em causa os valores, sobretudo quando são positivos - havendo quem lamente o drama dos números quando são negativos, criticando a falta de soluções -, e o exemplo dessa postura são as estatísticas do desemprego. "Onde é que se encaixam os POT's (Programa de Ocupação Temporária de Desempregados) e outros programas afins que só servem para mascarar os números do desemprego?!", questionava um leitor sobre os números de Setembro. "Quantos estão em estágios e POT's deveria fazer parte da informação do emprego", sugeria outro. "Triste é saber que mais de 50% desse número é a tempo parcial e desses mais de 70% são temporários e sazonais", refere ainda outro.

"Arranjam programas ocupacionais ou estágios da treta? Menos 'inscritos' passa o tempo que é permitido estar inscrito? Menos 'inscritos' é trabalho temporário? Deixam de estar temporariamente inscritos também. E assim se reduz a famosa taxa de desemprego." Este comentário de uma leitora do DIÁRIO à notícia salientada acima, levam-nos a procurar dados que confirmem ou desmintam esta e as outras suposições.

Fomos aos registos publicados mensalmente, tanto pelo Instituto do Emprego da Madeira como pela sua congénere nacional, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, cruzamos as informações e explicamos aqui quais as conclusões.

Analisamos os principais indicadores do desemprego registado em Outubro nos últimos 10 anos (2016-2025), dos desempregados inscritos no final de cada mês, dos programas de emprego, dos empregados inseridos no mercado de trabalho, dos integrados em formação profissional, mesmo das ofertas de emprego captadas ao longo do mês, como se pode ver no quadro acima.

Desde 2016, o desemprego registado diminuiu quase 73%, uma diminuição de 3,5 vezes em número no espaço de uma década.

Quanto às inscrições de desempregados ao longo do mês têm-se mantido relativamente estáveis, com o máximo de 1.558 em Outubro de 2018 e os 893 (o mínimo neste período) de Outubro de 2025.

As ofertas de emprego tiveram um máximo em 2017 (330) e 2023 (157), denotando-se um valor muito maior nos inseridos no mercado de trabalho ao longo do mês, com o máximo nos 840 em 2021 e o mínimo de 435 este ano.

Já os referidos integrados em programas de emprego, a sua média tem-se mantido acima de 2.300 nesta década, com o máximo em 2021 (2.979) e 2020 (2.078), número muito mais relevante que os integrados em formação profissional, com o máximo em 2017 (502) e o mínimo dos mínimos, ou seja nenhum, em Outubro de 2025.

Na prática, fica claro que se os POT's tivessem influência no número de desempregados registados ter-se-iam feito sentir quando o desemprego registado estava em níveis absurdamente altos, não agora. Os inseridos em POT's têm-se mantido estáveis ou até com tendência a diminuir, confirmando menor número de candidatos com necessidade de ocupar na falta de trabalho.

Para confirmar estes indícios, olhamos aos dados do IEFP que junta todos os pedidos de emprego, ou seja de quem é registado como desempregado, dos empregados à procura de novo emprego, dos ocupados (em POT's ou seja, trabalhadores integrados em programas especiais de emprego ou formação profissional, com exceção dos programas que visem a integração direta no mercado de trabalho) e mesmo aos que estão indisponíveis temporariamente (desempregados ou empregados que não reúnem condições imediatas para o trabalho por motivos de saúde). No total, no final de Outubro contavam-se 8.539, o número mais baixo e três vezes menos do que no início do período, quando tinham pedidos de emprego um total de 26.616 pessoas (20.386 dos quais desempregados registados).

Com números muito equilibrados ao longo dos anos entre Ocupados (média de 2.502) e indisponíveis temporariamente (607), a outra grande diferença faz-se nos empregados que pretendem mudar, em Outubro de 2025 eram 233, mas há 10 anos ascendiam a mais de 3.000, ou seja 13 vezes mais do que actualmente.

Na altura, provavelmente muitos trabalhadores temporários estariam sempre prontos a mudar de trabalho, por isso o seu peso nos pedidos de emprego no IEM era de 11,3%. Hoje, esse número é quase irrisório, pois representam 2,7% dos pedidos de emprego.

Por fim, observamos o número de pessoas integradas em Programas e Medidas de Emprego entre 2016 e 2024, de acordo com 'Breve Balanço - Emprego e Coesão Social', que é publicado anualmente pelo IEM, e o dinheiro despendido para financiar tais programas.

Nos montantes, atingiu um mínimo em 2020, cerca de 13,3 milhões de euros, e um máximo no ano seguinte, quase 21,3 milhões de euros. Uma diferença de quase 8 milhões de euros que dever-se-á ao impacto da covid-19 e a medidas reforçadas necessárias para segurar empregos e o desemprego que chegou a aumentar, antes da retoma sentida mais recentemente.

Contudo, no ano passado, o Governo Regional investiu mais de 20,3 milhões de euros para financiar esses programas, que beneficiaram 4.507 pessoas, o número mais baixo desde 2016, inferior inclusive ao de 2020 (4.636). Ou seja, em 2024, em média o apoio público por pessoa beneficiária desses programas e medidas de emprego ascendeu a 4.509,77 euros. Em 2020, ascendera a 2.860,14 euros e em 2021 subiu para 3.644,43 euros. Conclui-se que no ano passado, o Governo apostou forte em financiar estes programas de emprego e formação.

Para este ano, o Governo, através do IEM (Plano de Actividade 2025), planificou que "o desemprego assume-se como um elemento cada vez mais presente na transição da escola para o mercado de trabalho e a ter uma duração cada vez maior. Os jovens são também particularmente, sujeitos a situações de trabalho precário, ao longo do seu percurso profissional. A crise sanitária provocada pela Covid-19 veio evidenciar que, apesar dos esforços já realizados, este grupo mantém-se especialmente vulnerável ao desemprego e a crises económicas".

E salientou: "Efetivamente, a taxa de desemprego dos jovens até aos 25 anos agravou-se em 2020, a um ritmo muito mais intenso do que para os adultos, tendo atingido um valor de 47,1% no 4º trimestre de 2020. O trabalho contínuo do IEM, IP-RAM, através das suas medidas ativas de emprego, contribuiu para a descida acentuada da taxa de desemprego jovem, que apresenta, no 3º trimestre de 2023, um valor de 18,6%", elogia-se.

Mas, "apesar deste decréscimo, este indicador permanece merecedor da nossa atenção. Deste modo, o desemprego e a inatividade dos jovens têm vindo a ser uma das principais preocupações políticas a nível mundial, tendo-se multiplicado os apelos e as medidas de mitigação deste fenómeno. A nível europeu, nacional e regional destaca-se a Iniciativa Garantia Jovem, que pretende fornecer uma resposta de emprego, educação ou formação aos jovens, com resultados muito positivos. O IEM, IP-RAM irá, portanto, reforçar os esforços dirigidos para os jovens, procurando abranger os mais afastados do mercado de trabalho, quer pela continuação de medidas de estágios profissionais, quer pela adaptação/criação de novas medidas ativas que permitam aumentar a intervenção sobre este público. Na prossecução deste objetivo, o sucesso destas intervenções dependerá da sua divulgação e de novas formas de comunicação com os jovens e com as entidades parceiras", propôs-se.

Ou seja, em termos de estágios e programas de formação, a prioridade passa claramente para os jovens que nem estudam, nem trabalham. Fica também claro que estes desocupados contribuem para aumentar o número de pedidos de emprego e não o número de desempregados registados.

"Arranjam programas ocupacionais ou estágios da treta? Menos ‘inscritos’ passa o tempo que é permitido estar inscrito? Menos ‘inscritos’ trabalho temporário? Deixam de estar temporariamente inscritos também. E assim se reduz a famosa taxa de desemprego." Comentário de uma leitora do DIÁRIO. Os dados não confirmam.