A incongruência de Cotrim
“Quero construir um país preparado para o futuro“ é a proclamação que norteia a candidatura do liberal João Cotrim Figueiredo (CF) a Presidente da República (PR).
Os liberais como CF apresentam-se sempre com um certo ar “cool” de afetada superioridade intelectual como se estivessem a fazer um favor quando apresentam as suas “soluções infalíveis” ao povo “ignaro”, assim como uma espécie de derradeiros “guardiães” de uma sabedoria exclusiva para acabar com a miséria transformando-a em “progresso” e “riqueza” para todos.
Quando vi Alan Greenspan, esse intransigente defensor do liberalismo descontrolado, assumir publicamente com os olhos marejados que se enganara quanto à bolha imobiliária e à capacidade auto-reguladora dos mercados, tive a certeza absoluta que o liberalismo económico e anti-regulador professado por liberais como CF nunca poderia ser o caminho a seguir por uma sociedade onde tem de existir legislação reguladora e de caráter fiscal/social capaz de impedir que o fosso entre os mais pobres e os mais ricos continue a aumentar de forma cada vez mais descontrolada.
A premissa de que o aumento desregulado da riqueza por alguns implicaria de forma automática a sua redistribuição não é verdadeira, já que para essa redistribuição acontecer tem de haver legislação adequada para esse efeito nomeadamente através da carga fiscal, já que a principal pretensão dos mais ricos, salvo raras e honrosas exceções, é continuar a aumentar a sua riqueza e nunca a sua redistribuição, a menos que a isso sejam forçados.
A enorme contradição desta proclamação de CF meramente eleitoralista e enormemente populista é o facto indesmentível de enquanto esteve à frente da IL não ter sido capaz de convencer os portugueses dos benefícios desse seu liberalismo e a dar-lhe os votos necessários para constituir e chefiar um governo capaz de “construir um país preparado para o futuro“, algo que não seria de todo como PR que iria conseguir.
Daí a enorme incongruência de CF ao trocar o lugar de deputado na AR, onde poderia fazer a diferença na implementação das tais políticas para “construir um país preparado para o futuro“, pelo de deputado no PE onde não tem qualquer possibilidade de alterar o que quer que seja na política interna de Portugal, tal como vir agora através desta sua candidatura à PR prometer aquilo que sabe de antemão que não iria cumprir, até porque não se enquadra nas atribuições constitucionais do PR mas sim do Governo.
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