À chegada do primeiro filho
A insegurança dos pais não é uma fragilidade é um processo natural de adaptação e crescimento
O primeiro filho é para os pais um desafio, uma aventura, uma descoberta, uma novidade. Quanto mais planeado for, mais expectativas se colocam, mais cresce no imaginário dos pais e habitualmente também da família e amigos próximos.
Entre medos, sonhos, planeamento e sentido de responsabilidade, cada vez mais os pais do primeiro filho vivem a gravidez com uma ansiedade de expectativa. Para além deste sentimento muitas vezes partilhado, as mães enfrentam ainda as mudanças físicas e hormonais que potenciam a ansiedade de confronto com a aproximação de um período longo de adaptações continuas.
A chegada do bebé é o princípio de uma vida a três, o casal passou a ter de dividir o seu espaço relacional com o primeiro filho que altera consideravelmente a dinâmica da recente família.
A inexperiência da função parental e cuidados de uma criança, ainda tão dependente e com características que já vão esclarecendo quanto à sua personalidade, enfrenta as “certezas absolutas” de outros, que têm sempre uma palavra a dizer, sem se preocuparem com o reflexo das suas opiniões/criticas. A maior parte das vezes, as opiniões servem mais para destabilizar e potenciar angústia do que para dar suporte e criar confiança. A vontade de ajudar surge colada a experiências pessoais, em contextos diferentes e bebés com diferentes ritmos e personalidades.
A insegurança dos pais não é uma fragilidade é um processo natural de adaptação e crescimento. Hoje tudo é observado e comentado ao milímetro, as respostas e orientações surgem de todo o lado, não é fácil ignorar modelos e opiniões, ainda que cada bebé seja uma pessoa única e especial.
Esta primeira etapa dos pais, do seu primeiro filho, está recheada de desafios que para além das aprendizagens em relação ao seu bebé, exige adaptações na relação do casal que por vezes confunde a origem dos desentendimentos.
Hoje mãe e pai ajustam às suas competências parentais as obrigações profissionais assim como as atividades sociais e de lazer, que tornam as rotinas e as obrigações menos pesadas. A verdade é que a cultura herdada ainda não olha da mesma maneira para o lugar da mãe e do pai, as responsabilidades partilhadas e a gestão do seu equilíbrio ainda estão longe de ser consensuais, quer na sociedade em geral, quer nas dinâmicas dos casais.
As dificuldades dos casais começam muitas vezes aqui entre desgastes físicos e emocionais, passando a presença do bebé a funcionar como motor da discórdia, deixando os pais cada vez mais distantes do lugar do casal, carregados de culpa e sentimentos de ineficácia.
É fundamental procurar ajuda antes que a instabilidade e o conflito destruam a relação do casal e impeçam que o projeto do primeiro filho seja o lugar do problema. Ter um espaço durante a gravidez, para ambos os pais, onde é possível, refletir e planear a chegada do bebé: pensar as expectativas, imaginar cenários possíveis, enfrentar medos, ganhar e reforçar defesas para as opiniões alheias. Um espaço de partilha, em grupo, onde cada um se fortaleça com as dúvidas e inseguranças de todos. Falo de prevenção que é sempre a resposta de primeira linha “agir antes que aconteça”.