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Crónicas

Santana, capital do golfe?

As ribeiras do Faial e de São Jorge são os únicos locais com boa aptidãopara o golfe na Madeira

Um erro repetido não raras vezes se assume como correcto.

Vem isto a propósito que tem sido repetido a Madeira poder vir a ter cinco campos de golfe no futuro próximo. E esse número não coincide com a realidade actual nem com qualquer perspectiva afirmada pelo governo.

A Madeira, Ilha, tem dois campos com mais de trinta anos cada um. O do Santo da Serra, desde a década de vinte do século passado, ampliado em 1937, reconstruído em 1991 e novamente ampliado em 1998. O outro é o Palheiro Golfe. Neste momento, está em conclusão para 2026 um terceiro campo na Ponta do Pargo.

Tenho sugerido, pois foi iniciativa minha, a construção de um novo campo na Ribeira do Faial. É o único local adequado para construção de um campo de golfe na Ilha da Madeira. A zona ainda está naturalmente protegida, para esse efeito, pelo medo da ribeira, o que se resolverá com a sua necessária canalização. O presidente do governo assumiu o interesse por este projecto e já garantiu a sua construção em breve.

Será o quarto campo na Madeira e, dificilmente, se encontrará espaço adequado na Ilha para um hipotético quinto campo. A não ser que …

Talvez haja uma outra hipótese de construção de campo de golfe na Ribeira de São Jorge. Local muito bom, sem obstáculos, naturais ou edificados pela mão humana. Estive a visitar este espaço natural, na semana passada, e faço força para que tenha área suficiente. Era privilégio para aquela freguesia e concelho. Mas, pelo menos para nove buracos, terá o espaço necessário.

Nunca alguém identificou esta possibilidade de São Jorge, como não o tinham feito relativamente à Ribeira do Faial, antes de eu as ter sugerido. Ao Faial levei o grande Severiano Ballesteros para ter opinião. Aqui, em São Jorge, será preciso conhecer a dimensão do local e levar especialista para opinião técnica. Dezoito ou nove buracos.

Agora sim, seriam cinco campos de golfe na Madeira.

É curioso Santana se revelar com o maior potencial para golfe em toda a Ilha da Madeira. Espaços abrigados, planos, ao nível do mar, com água para rega e clima privilegiado. Seria mudar o destino regional para um patamar de excelência económica, valorizando, como nada mais, toda a costa norte.

Perder esta oportunidade será imperdoável, pois este concelho nortenho vive distante, isolado, abandonado e reduzido à agricultura e um turismo de passagem durante os passeios à volta da ilha.

Será suicídio colectivo querer viver da simples exibição das “casas de Santana”.

O Porto Santo, por sua vez, tem um campo com vinte anos, super utilizado por estrangeiros durante todo o inverno. É o campo recordista de jogadores na Região. Tal levou o presidente Miguel Albuquerque a anunciar a construção do segundo campo, que já dispõe de projecto de Severiano Ballesteros. Como não está adquirido todo o terreno necessário, e face à rapidez do crescimento do número de jogadores, o governo regional anunciou a construção imediata dos primeiros nove buracos. O restante será logo após a primeira metade, já financiado pela venda dos lotes imobiliários anexos ao campo.

Assim, o Porto Santo ficará com dois campos e a Madeira com quatro. A Madeira como Região terá seis campos, enquanto como Ilha terá quatro.

Se a Ilha da Madeira fica bem com quatro campos, melhor seria com cinco, espalhados de leste a oeste e de norte a sul, a Ilha do Porto Santo deve encarar outra perspectiva.

De Outubro a Maio, o Porto Santo pode ocupar quatro campos de golfe que darão uma ocupação hoteleira muito elevada e rica. Se os campos tiverem alta qualidade, pelo menos igual à do Algarve, terão o mercado britânico disponível para alternarem as férias de golfe no Algarve com o Porto Santo. Melhores turistas de golfe, preços mais altos e mais despesas complementares nos restaurantes e bares. Como esta procura não existe no verão o Porto Santo ficará, nesse período, disponível para o tradicional turismo de praia de madeirenses e continentais.

Tudo encaixa na perfeição. Exceção a nada ser feito e a se perder a oportunidade.

O Porto Santo é o único local na Europa onde não existe qualquer dia que não se possa jogar golfe. São três as regras que impedem a prática do golfe: trovoada com raios, “greens” alagados e nevoeiro. Nada disto alguma vez foi visto na altitude do campo de golfe da Ilha. É, assim, possível promover o Porto Santo com o “slogan”: venha jogar golfe e se não conseguir não paga estadia.

A medida mais acertada era introduzir no PDM de Porto Santo reserva de terrenos para os adicionais dois campos, para não acontecer como no Faial onde a câmara patrocinou a construção de um novo armazém mesmo no meio do terreno para o campo de golfe. Uma área reservada ao golfe desde o presidente da câmara Carlos Pereira. A mesma reserva se sugere para São Jorge.

Como curiosidade recordo, aos mais jovens e aos iniciados tardiamente no golfe, que a Direcção de Turismo na Madeira, antes da Autonomia, considerou construir um campo de golfe no Chão da Lagoa, para substituição do velho campo do Santo da Serra. Os jogadores do Santo desaconselharam essa localização.

Muito antes há registos municipais para campo em São Martinho.

O golfe na Madeira nasceu em 1931, por iniciativa de Manuel Pereira Jr. e seu irmão Álvaro Pereira, junto ao velho hotel do Santo da Serra, propriedade deste último. Um “pitch and putt“ com nove buracos. Mais tarde, em 1937, os ingleses liderados por John Blandy, construíram um campo de nove buracos. As famílias inglesas mais abastadas passavam os meses de verão no Santo onde construíam belas segundas casas. Assim o Santo da Serra se tornou o local adequado ao campo: ali estavam os jogadores e, nessa época a mobilidade era impossível.

Mais tarde, no final dos anos oitenta, o governo regional construíu dezoito buracos no Santo da Serra criando um belo e competitivo campo. Em simultâneo, Adam Blandy consegue evitar, com a promessa de construir um outro campo, a instalação de uma base militar de mísseis na sua propriedade. É aberto no mesmo tempo do novo Santo da Serra.

Está a terminar a construção de um terceiro campo de golfe em Ponta do Pargo, uma alternativa pública à intenção de empresários privados construírem um outro nos Prazeres. O local é dramático, veremos o que dá.

Assim, os três campos existentes estão localizados, não em áreas que tivessem natural aptidão para o golfe, mas onde diferentes circunstâncias o determinaram. Estão os três em altitude, expostos ao vento e com condições climatéricas imprevisíveis. Não é possível garantir bom dia para a prática de golfe. Pode falhar.

Para o norte da Madeira, como para toda a Ilha, estamos perante oportunidade única à qual se exigirão responsabilidades. Para quem não tem alternativas uma boa solução é milagre bem-vindo.

Artigo no Diário de Notícias

Sou viciado na liberdade que implica permitir que se pronunciem ideias e opiniões que não sejam do agrado de todos.

A garotice gratuita não me atrai. Repudio e desprezo. É falta de educação. Ofender na televisão, com a complacência do moderador do programa, o autor de um artigo de opinião sobre futebol apenas porque não se gosta da sugestão apresentada, não é dos nossos tempos democráticos. Apenas uma curiosidade: o referido artigo no Diário “complexo de superioridade ?” teve, na sua reprodução no Facebook, um primeiro “Like” do dr. José Luís Nunes, por quem mantenho admiração e saúdo.