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Editorial

Não nos vergamos

O ‘artigo de opinião’ que optamos por publicar nesta edição - e que decorre de uma reacção a uma notícia do DIÁRIO, que devia ter sido feita ao abrigo do direito de resposta - revela muito sobre o seu autor. Miguel de Sousa beneficiou até hoje de um espaço que lhe foi generosamente concedido, quase sempre numa página ímpar a cores, para escrever sobre o que quisesse, desde que com relevante interesse público. Fê-lo quinzenalmente, sem qualquer interferência editorial da nossa parte. Apesar do recente recurso sistemático à vitimização insultuosa e à tentativa de interferência editorial, mantivemo-nos no mesmo patamar de não intromissão nos conteúdos escritos, até porque prezamos a liberdade e o pluralismo.

Publicamo-lo também porque não somos imunes à crítica, apesar desta não ser passível de confusão com as ofensas que ficam com quem as pratica e que pertencem a um domínio que nos recusamos a detalhar, já que aqui apenas importa sublinhar que a acusação de que fazemos notícias “a mando de” ou por encomenda é particularmente grave. A notícia do DIÁRIO é factual e verdadeira e se, estranhamente, não apreciou o seu conteúdo, isso não lhe dá o direito a pôr em causa este órgão de comunicação social e os seus profissionais, com uma série de acusações desproporcionadas, infundadas e levianas, e pior, com mentiras.

Publicamo-lo por repúdio à amnésia selectiva. Miguel de Sousa tenta humilhar a jornalista Paula Henriques por esta não lhe revelar as fontes de informação, ou seja, por ser séria e honrar o código deontológico. E pior, por alegadamente não respeitar um “off the record”, máxima que comprovadamente não desprezou. A jornalista que merece toda a nossa confiança, a nosso pedido, deixa claro: “A rubrica ‘No Rasto de...’ aborda temas esquecidos ou parados, como o Gabinete de Estudos do PSD. O artigo foi adiado devido às eleições para evitar interpretações políticas. O contacto com Miguel de Sousa foi feito com transparência, garantindo-lhe o direito ao contraditório. As conversas são gravadas por rigor profissional, e o que foi combinado como “off” foi respeitado. A gravação está disponível para esclarecimentos”.

Nunca nos passou pela cabeça que Miguel de Sousa tenha por instantes pensado que teria um tratamento de privilégio ou de excepção por ser colaborador do DIÁRIO. Enganamo-nos pois vinca bem essa condição no seu escrito, como se, em matéria noticiosa, o estatuto lhe desse qualquer vantagem em relação aos demais. Aliás, o facto de insultar indicia que a colaboração “de borla” que prestava, como o fazem todos os que connosco colaboram, afinal não era por uma questão de serviço público ou de cidadania, mas sim para se promover e tirar vantagens que em nenhum momento lhe foram concedidas, nem a qualquer outro colaborador.

Um colaborador que treslê, que não tem poder de encaixe e que ambiciona ser provedor apenas de si próprio presta um mau serviço a este pilar da democracia. Era bem mais honesto dar lugar a quem faz da partilha um serviço colectivo do que dar palpites sobre como se faz jornalismo, revelando completa ignorância sobre um conjunto de regras, entre as quais, a isenção, a imparcialidade e a imperiosa necessidade de ouvir as partes atendíveis numa notícia.

O DIÁRIO reafirma que se define como “um órgão de comunicação social ao serviço de uma informação objectiva, independente e responsável, alicerçada na defesa dos interesses dos madeirenses e porto-santenses”, estatuto editorial inegociável mesmo quando o poder tudo fez para fechar as portas que se mantêm abertas há 150 anos.

O DIÁRIO orgulha-se de continuar a ser “porta-voz dos princípios e valores defendidos e aceites pela comunidade madeirense onde quer que ela se localize”, com cada vez mais audiências numa dimensão global e multimédia.

O DIÁRIO tem regras, com “orientação, superintendência e determinação do seu conteúdo da responsabilidade do Director, que subordina a actuação deste periódico a critérios de pluralismo e de isenção, procurando manter rigorosa independência na sua tarefa de informar”, mesmo que haja quem tente descredibilizá-las para assim ensaiar ou concretizar a manipulação.

Os jornais centenários até podem morrer, mas nunca pelo vaticínio alucinado dos que se dizem “amigos e parceiros”, que não seriam ninguém sem o cobiçado palco onde agora lhes dá jeito exibir ingratidão.