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Ensino privado, cooperativo e IPSS para lá de ataques “ad homines”

Recentemente, nas páginas deste Diário, o Dr. José Luís Nunes, conhecido pediatra, político e empresário do setor privado da educação, abordou as enormes dificuldades com que se debatem as escolas da Região para terem um corpo docente estável. No entanto, pressionado por interesses financeiros, preferiu a emoção à razão; a análise superficial e ligeira à compreensão das causas profundas; o dedo em riste, apontando responsabilidades alheias à assunção das responsabilidades. Enfim, uma intervenção que, ao invés de ajudar a resolver o problema, contribui para a desestabilização e para extremar posições.

Não é essa a forma de cativar para e fixar os docentes no seu estabelecimento; não é esse o caminho para o diálogo e procura de soluções para um problema que, se é grave hoje, muito mais o será no próximo ano. Não há que tapar o sol com a peneira: o défice de docentes vai acentuar-se muito, ao longo das duas próximas décadas. As contas são fáceis de fazer: se, em Portugal, se aposentam 4000 docentes por ano e só entram 1200 para os cursos de formação de professores (números de 2025), são menos 2800, só este ano. Ora, não é a redução demográfica, que tem vindo a abrandar, que vai resolver o problema. Na RAM, os dados não são mais animadores, já que são, segundo informações da SRE, mais de 150 os que se aposentam por ano, a que se juntam mais umas dezenas que têm optado por se transferir para o continente. No total, saem do sistema mais de 200/ano.

Esclarecidos os números, voltemos ao discurso de José Luís Nunes, um discurso pejado de argumentos enviesados por interesses pessoais e ataques “ad homines”, isto é, ao caráter dos docentes. Quem conhece os mais elementares princípios da oratória sabe que argumentos desta natureza só merecem um tratamento: desprezo total. É a forma de evitar cair no mesmo erro do opositor, atacando-o com as suas próprias incoerências de vida e de caráter. Não o vamos fazer, obviamente. Não significa isso fraqueza da nossa parte, antes uma opção clara pela elevação do discurso, na procura conjunta de soluções, não de confusões.

Ainda assim, não deixamos de repudiar, veementemente, cada uma das acusações que o Dr. José Luís Nunes dirige aos docentes e de reafirmar o que, há dias, afirmamos na audição parlamentar em que participamos sobre as condições dos professores e educadores do ensino privado, cooperativo e IPSS: se os professores e os educadores trocam os estabelecimentos privados pelos públicos é porque os salários e as condições de trabalho que neles lhes oferecem são bem piores do que as do público, já, por si, insuficientes para atraírem jovens em número suficiente para a renovação do corpo docente.

Que fique claro, os docentes são o contrário do que afirma o Dr. José Luís Nunes, como o provam vários estudos nacionais que os colocam no topo da escala da confiabilidade entre vários profissionais. Mais, é graças à sua profissionalidade e dedicação que se cumpre o art.º 74.º da Constituição Portuguesa, que consagra o direito à educação e à igualdade de oportunidades de acesso e sucesso escolar, independentemente das condições económicas das famílias.

Nota:
Saúdo o telefonema que recebi do Dr. JLN, pelo tom de respeito e apreço manifestado pelos professores e educadores e pela manifestação de abertura para dialogarmos na procura de respostas positivas para o problema da falta de docentes.