Depois das vindimas, há que lavar e arrumar os cestos
Finalizada as eleições autárquicas, parabenizo todos os eleitos. Mas, felicito também todos os outros pela coragem e o trabalho de serviço à democracia por aceitarem encabeçar as diversas listas e de dar a sua cara pelos diferentes projetos políticos. Precisamos de compreender que todos são importantes para garantir a democracia, tal como a conhecemos.
A história mundial recente demonstra que a democracia não pode ser dada como garantida. Precisa de ser defendida para que perdure no tempo. Há, pois, que congratular e reconhecer a participação de todos. Sem esta pluralidade de opiniões e projetos cairíamos numa ditadura de apenas um partido político.
Feito este reconhecimento público, é tempo de refletir sobre os resultados. Enganam-se aqueles que acham que eleições só se ganham em tempo de campanha. Na verdade, ganham-se eleições criando um projeto consistente e persistente a médio e longo prazo. Voltaremos a ter eleições daqui a 4 anos e, em 2029, teremos eleições para a Assembleia da República, para o Parlamento Regional e novamente para as autárquicas.
Por muito que doa, a verdade é que muitos dos resultados de agora são consequência de demérito da oposição. Este comentário apenas resulta de análise política e não deve ser confundida com considerações pessoais sobre candidatos, ou outros responsáveis políticos. Por vezes, confunde-se comentários políticos com considerações pessoais, pois na nossa terra foi adotado a postura “se não és a meu favor, és contra mim”. E eu não sou uma “yes woman”. Sigo apenas o meu caminho.
O PSD-Madeira apresentou alguns dos seus candidatos tardiamente e houve avanços e recuos na apresentação de listas, demonstrando que o ambiente interno continua em convulsão. Voltou a perder votos em muitas juntas de freguesia e Câmaras Municipais. Ganharam o Funchal que concentra um grande número de votantes da nossa Região, mas não foi à conta de terem conquistado mais votos. Aliás, voltaram a perder votos. A dispersão de votos foi a principal razão de terem conquistado o poder. Algumas juntas precisam de dialogar com os representantes dos outros partidos para servir a população. Quem cair na tentação de ser arrogante, ou na estratégia do “orgulhosamente sós”, vai dar-se muito mal. Ou mesmo procurar convocar eleições antecipadas nas juntas de freguesia, onde não têm a maioria nas assembleias de freguesia. Não vai correr bem essa estratégia. Os nossos políticos precisam de aprender a negociar. E quem negocia tem de olhar para o CDS-PP que está a ser “engolido” pelo PSD-Madeira. Vão ter de negociar. Com quem vão negociar? Estarão preparados para esta forma de governação? Não podem manter a lógica do quero, posso e mando. E nos lugares onde não ganharam? Como vão fazer oposição? Uma derrota é uma derrota e o líder do partido é sempre responsável por essas situações. Recai sempre sobre o líder a responsabilidade final dos resultados eleitorais. Tudo isto, se calhar, é consequência das suas decisões internas no partido e de segregações que fomentou. Continuar a assentar as vitórias na máquina partidária, um dia não vai dar certo.
Se olharmos para a oposição, verificamos que continuou a haver variação da confiança dos eleitores nos partidos. É importante reconhecer o trabalho dos partidos da oposição. A existência de partidos políticos que fazem uma oposição de qualidade força quem está no poder a exercer uma melhor governação e contraria abusos. Uma oposição forte é, por isso, fundamental para as democracias. Todos os grandes filósofos e pensadores, desde a Grécia antiga, alertam para o facto de que o poder corrompe. E falam na importância de alternância de poder. Mas essa alternância tem de ser credível e conquistar a confiança dos eleitores.
Todos os que estão na oposição precisam decidir rapidamente como farão oposição nos próximos 4 anos. Não podem esperar tomar essa decisão para daqui a 4 anos. Decisões atuais estão já a formar a opinião dos cidadãos para os próximos atos eleitorais. É necessário ter muito cuidado com a condução dos destinos dos partidos e da gestão de conflitos internos. É preciso consistência, resiliência, muita convicção e diálogo.
Todos os partidos sem exceção precisam trabalhar a sua credibilidade. E é preciso contrariar a tentação de estarem fechados na sua bolha de conforto. É preciso envolver a sociedade civil.
Desta vez, à conta dos resultados, não vi ninguém preocupado com a abstenção. Convém lembrar aos empolgados e aos desanimados que 45,71% do total dos eleitores na Região não foi votar e que no Funchal 49,58% dos eleitores não foram votar. Porquê? Eis uma questão que vale milhões!