Refundar o PS Madeira
Nas eleições deste domingo, o PS registou a maior derrota eleitoral autárquica desde, pelo menos, 2013 - e perdeu também mais uma oportunidade de utilizar estas eleições para iniciar o trabalho de construir equipas locais, em todas as freguesias, que preparem o ciclo intenso de eleições que 2029 poderá trazer, com eleições europeias, nacionais, regionais e autárquicas previstas.
Não só nada disso foi feito, como o PS conseguiu dar falta de comparência em dois concelhos, na Ribeira Brava e em Santana; mudar de candidato em Santa Cruz; apoiar e desapoiar um candidato no Porto Santo; e desperdiçar a oportunidade de reconquistar o Funchal, depois de, desde 2020, alguns tudo terem feito para impedir Miguel Silva Gouveia de governar a cidade com apoio e tranquilidade.
Os responsáveis pelo descalabro estão bem identificados e dispensam apresentações. É esta a consequência de termos um partido entregue a uma liderança inexistente, sem presidente, secretária-geral, direção, ou órgãos funcionantes.
Os resultados eleitorais que o PS vem registando desde 2020 são, espero, suficientes para chegarmos a uma conclusão consensual: a de que ou o PS muda, ou desaparece. Não, não há mais tempo a perder - mas a pressa não pode ser só para eleger um novo líder, de que precisamos muito, mas antes para mudarmos radicalmente a forma como o PS tem olhado, historicamente, para os seus sucessivos insucessos eleitorais, sem procurar novas soluções estruturais, de que precisamos ainda mais.
Apesar de uns serem mais culpados do que outros, no PS todos temos a nossa dose de responsabilidade: por ação ou omissão, assistimos ao nosso partido a decair progressivamente, sem que tivéssemos conseguido impedi-lo atempadamente. Agora, os Socialistas da Madeira têm uma de duas opções: decidir refundar o seu partido, ou deixá-lo definhar, entregue aos jogos de poder de carreiristas, que parecem não ter fim. Que partido queremos ser? Que valores queremos defender? Que opções políticas queremos apresentar? Quem é que queremos representar? Quem é que queremos que nos represente? Cinquenta anos depois do advento da Democracia e da Autonomia, atualmente a responsabilidade do PS não é menor, é maior - porque a oposição e a construção de uma alternativa não pode ficar entregue aos populistas de direita do CHEGA e ao populismo de esquerda do JPP, dois partidos com projetos hoje erguidos a partir do refugo de PSD e PS.
A missão que os Socialistas madeirenses têm pela frente é quase impossível para um coletivo, mas garantidamente impossível para quem se ache, novamente e individualmente, O Escolhido. Foi essa solução mal ensaiada que nos trouxe até aqui. O PS não precisa apenas de um líder novo; precisa de mudar a forma como faz política na Madeira. É por isso que defendo uma solução a três tempos: primeiro, o PS deve convocar um congresso estatutário, aberto a todos os seus militantes, que permita apresentar propostas de alteração e votá-las de forma transparente, adaptando a realidade interna partidária aos novos tempos; depois, deve convocar eleições primárias, abertas a todos os militantes e simpatizantes inscritos, que os atuais estatutos já permitem, para escolher uma nova liderança, livre dos sindicatos de votos de aparelhistas de terceira categoria e aproximando o PS da sociedade civil que se queira envolver e mobilizar para esse momento; e deve, finalmente, convocar um congresso que permita uma discussão real de diferentes moções de estratégia global, que possam ser apresentadas sem vinculação a candidaturas à liderança, permitindo, com isso, redefinir a nossa estratégia política e as opções que queremos construir e apresentar aos madeirenses no próximo ciclo eleitoral.
O PS não precisa apenas de um líder novo – mas também precisa de um. Quem quiser liderar o PS, só tem uma solução: expulsar o método “cafofo-iglesiano”, de afastar e calar tudo e todos, da nossa prática política; conversar com os militantes que foram escorraçados pela turba; reaproximar e construir pontes; devolver a dignidade institucional ao nosso partido; renovar as fileiras partidárias; reconstruir as nossas estruturas regional e locais; e conseguir comunicar, outra vez, com os madeirenses em geral. Uma missão muito difícil e para, pelo menos, quatro anos.
Por agora, têm a palavra, de novo, os dirigentes Socialistas da Madeira, de que muitos como eu não fazem parte há muitos anos, porque afastados e silenciados por quem lá está: desta vez, é para fazer mais do mesmo, com os mesmos de sempre, ou é para, finalmente, fazer diferente?