DNOTICIAS.PT
Editorial

Reflectir para melhor decidir

Este ano o nosso aniversário coincide com o dia de reflexão eleitoral - um detestado anacronismo legal que, paradoxalmente, nos serviu de inspiração. Ainda que limite abordagens potencialmente geradoras de queixas partidárias ou de incómodos triviais por alegado tratamento discriminatório das candidaturas, essa pausa obrigatória motivou-nos a partilhar conteúdos susceptíveis de espelhar a consciência cívica de um povo que, há 149 anos, viu nascer um projecto informativo permanentemente próximo dos seus, daqueles que quer servir e projectar. Uma odisseia que em muitos momentos dá que pensar e, não raras vezes, vinca a importância da ponderação antes de todas as decisões, independentemente da sua dimensão, relevância e durabilidade, bem como dos seus protagonistas, caprichos ou ambições. Entendemos ser interessante combinar a missão jornalística que deve contribuir para opções mais responsáveis com a necessária capacidade de argumentação colectiva, tendo o conceito de reflexão como fio condutor desta edição especial, conscientes que importa analisar sempre com frieza os factos para melhor escolhermos.

Decidimos percorrer as primeiras páginas que desencadearam soluções, escolhendo algumas daquelas que mostram como o DIÁRIO teve influência nas escolhas ou decisões colectivas e ajudou a Madeira a parar, pensar e decidir.

Percorremos as entidades que na Região cruzam ideias disruptivas nas ‘talks’, proporcionam pausas elementares na vida agitada, promovem retiros espirituais e reciclagens profissionais. Tentamos perceber como é que os grandes grupos e empresas na Região preparam os seus quadros para a necessidade de pensar antes de qualquer acção. Damos conta do testemunho de cidadãos de diferentes gerações que treinam com afinco a ponderação.

Mostramos como académicos, historiadores e investigadores perspectivam a importância da reflexão como base para as grandes decisões.

Nesta edição em que avivamos a memória e a consciência mostramos como a imprensa pode contribuir para que os cidadãos formem a sua opinião e ajudar a pensar com bom senso numa era em que é moda reagir por impulso. E como é determinante apostar no fact-checking, nas explicações e na literacia mediática num contexto em que prevalecem narrativas muito ao gosto dos promotores da mentira e da desinformação.

Rumo aos 150 anos de DIÁRIO, momento que hoje se inicia com propostas festivas, mas também pedagógicas, temos a certeza que importa reforçar o pacto de confiança com os cidadãos que não dispensam a informação credível, com rosto e assinatura, livre e ao mesmo tempo comprometida com valores. Vivemos tempos desafiantes, marcados pelo efémero, por um conjunto de dados que circulam a uma velocidade sem precedentes, muitas vezes sem verificação, sem contexto e sem responsabilidade. Num mundo assim, o jornalismo pilar da democracia, logo, sério e aliado da verdade, torna-se não apenas relevante, como indispensável.

Para tal, importa que façamos o mesmo exercício reflexivo com frequência de modo que possamos responder de forma robusta aos temas que vão marcar o futuro da Região, desde a sustentabilidade à economia, das migrações à mobilidade e do turismo à habitação; aos momentos cruciais da Autonomia que se quer evolutiva e desburocratizada, ao serviço dos seus mais passíveis de desconsideração e desleixo; às urgências de cada tempo e de como podemos alimentar os grandes debates democráticos da Madeira. Não só para não repetir erros e aprender com o passado. Não só para que a notoriedade possa também subir ao palco onde brilham ilustres histórias de vida. Não só para que alguns se possam redimir. Não só porque sonhamos com novos heróis. Mas sobretudo para que na política ou no desporto haja mais estratégia; para que na ciência e na cultura haja mais investigação e interpretação; para que no jornalismo haja mais rigor e honestidade; e para que na vida quotidiana haja mais inquietação e menos comodismo, mais irreverência e menos rotinas, mais empenho e menos favores.