A Lealdade que nos falta...
Há algo profundamente humano na ideia de lealdade. Não aquela lealdade de servilismo, que curva a cabeça diante do poder e aceita, sem questionar, as ordens dadas. Falo de uma lealdade que se apoia na verdade, nos princípios e na procura de um ideal maior. Uma lealdade que transcende pessoas, partidos e interesses imediatos. Algo que parece faltar cada vez mais no nosso tempo.
Vivemos num mundo onde o grito mais alto muitas vezes substitui o argumento mais sólido. Onde a fidelidade a uma figura ou ideologia se sobrepõe ao compromisso com os valores fundamentais de liberdade, justiça e igualdade de oportunidades. Neste contexto, a lealdade verdadeira – aquela que questiona, exige e confronta – é um ato de coragem.
Pensemos na política, onde as alianças são frequentemente marcadas por vaidades e interesses oportunistas. Muitos confundem lealdade com submissão.
Acham que ser leal a um líder é aplaudir todas as suas escolhas, mesmo quando estas contrariam os princípios que ele jurou defender. Mas, paradoxalmente, a lealdade mais verdadeira é a que se recusa a ser cúmplice do erro. A verdadeira lealdade manifesta-se na crítica construtiva, na coragem de apontar falhas e na insistência em pedir coerência. Porque ser leal à verdade é mais importante do que ser leal a um nome ou cargo.
Na sociedade, essa lealdade é um antídoto contra os extremos. Ela tanto se opõe ao populismo como à apatia cívica. Exige que não fechemos os olhos para as injustiças, mas também que não nos entreguemos ao cinismo paralisante.
Ser leal ao ideal de uma sociedade mais livre e justa significa agir, cobrar e acreditar, mesmo quando tudo parece correr mal. É por isso que a lealdade não pode ser um pacto de obediência cega. A lealdade é, antes, uma aliança com aquilo que nós sabemos ser certo: o respeito pelos direitos individuais, a limitação do poder e a garantia de que cada pessoa tenha a oportunidade de florescer, criar e interagir.
Quando se trata de lealdade, o silêncio nem sempre é virtude; às vezes, é conivência.
Imaginemos como seria diferente o nosso mundo se todos fossemos leais a algo maior do que os nossos interesses imediatos. Se, em vez de defendermos figuras ou bandeiras, defendêssemos os valores que as justificam. Se, ao invés de procurarmos alianças convenientes, buscássemos alianças autênticas.
Talvez então, e só então, pudéssemos finalmente construir uma sociedade onde a liberdade não é privilégio, mas condição.
No fim das contas, a lealdade não é sobre quem seguimos, mas sobre o que nos guia. E talvez o maior desafio do nosso tempo seja lembrarmo-nos disto!
Tenho dito!
José Augusto de Sousa Martins