DNOTICIAS.PT
Artigos

Nasceu uma nova profissão: protestante

Não percebi muito bem o fascínio pelo mês de Fevereiro, nem sequer é o maior do ano

Descobri uma nova e promissora profissão. Ser protestante. Parece que está a dar dinheiro, porque no mês passado, cada vez que eu abria a televisão, havia alguém a protestar. Atenção: não ponho em causa nenhum dos protestos, mas há mínimos. O país não aguenta tanta emoção ao mesmo tempo. Era melhor terem calendarizado isso de outra forma.

Algumas vezes pensei que eram arruadas dos partidos para as eleições de domingo, mas depressa percebia que era gente a mais. E tratores também. Sim, porque os agricultores invadiram as estradas de Portugal com os tratores, em várias cidades do País. Já sabiam que não iam ser multados, porque as forças de segurança estavam em peso em Lisboa, a protestar. GNR e PSP nunca estiveram tão unidas. A rua onde se realizou o debate entre (quase) todos os partidos para as eleições de dia 10 de Março parecia a saída de um dérbi para os lado do Colombo. Mas é assim que tem de ser. Unidos na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. Pois, porque os que não puderam fazer greve, adoeceram. Não lhes deve ter valido de muito, porque os enfermeiros que os podiam tratar também estiveram a protestar durante o mês passado. Protestavam pelo aumento do salário em função da avaliação. Ainda bem que não são avaliados por professores, porque esses também estavam… a protestar.

Não percebi muito bem o fascínio pelo mês de Fevereiro, nem sequer é o maior do ano, mesmo sendo bissexto. Se escolhessem Agosto, Dezembro, sei lá, um mês com 31 dias, sempre tinham mais tempo de antena. Pelo menos era o que eu faria se fosse protestante. Se pagassem para protestar, eu podia juntar-me aos que o fizeram em 19 cidades portuguesas pelo direito à habitação preços acessíveis. E quanto mais protestasse, mais progredia na carreira. Quem me conhece, sabe que se isso acontecesse, eu ganhava mais que o Ricardo Salgado. Tive um chefe que cada vez que eu entrava no gabinete dele, nem precisava falar, para ele adivinhar que eu ia protestar. Não me dava tempo de antena, mas dava-me mais espaço na página para escrever as peças. E eu não o chateava até o “furo jornalístico” seguinte. Era num jornal. Escrito. Impresso. Não falado. Porque se fosse, eu era a primeira a protestar contra um pivô brasileiro que agora apresenta notícias num canal português.

Contem comigo para ser protestante contra o racismo e a xenofobia, como aconteceu em Fevereiro em oito cidades do país, mas não me tentem convencer que um canal de televisão português, que tem o dever de (in)formar, ensina os mais novos que se pode dar notícias com aquele sotaque saído de telenovela. O que me pôs a pensar no contrário: será que aquele conceituado canal internacional no “Brásiu” tem algum português a apresentar o telejornal? Não é por nada, é só para protestar.