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Espaços migrantes e comunidades lusófonas

A migração é assunto global e na ordem do dia. Pode-se mesmo falar da problemática das migrações, questão transversal e que interpela à reflexão de debate, bem assim a vivência e a narrativa dos contactos entre culturas no mundo contemporâneo, como assunto absolutamente crucial.

Vivemos um período de enorme mobilidade, com uma quota crescente de migrantes. As múltiplas e prolongadas crises humanitárias ligadas à pobreza e à fome, assim como aos abusos de direitos humanos e perseguição em vários países e aos conflitos em curso em várias regiões do mundo, tudo isso vem gerando um número elevado de migrantes, sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.

Todo este quadro pressiona as pessoas a saírem dos seus lugares de origem em busca de segurança e melhores condições de vida noutros destinos. Entretanto, a migração não é um fenómeno contemporâneo e ela se faz presente desde os primórdios da História da Humanidade e ela interpela uma ponderação alargada e especializada, em muitos casos especificada, como a exegese da conferência “Espaços Migrantes e Comunidades Lusófonas - Vivenciando e narrando o contacto entre culturas no mundo contemporâneo”, realizada na Universidade La Sapienza de Roma, convergindo estudiosos e investigadores.

As comunidades lusófonas (mais de 300 milhões de falantes), plurais e diversas, heterogéneas como tudo, têm pontos comuns e de interseção, assim como experiências cruzadas partilhadas de migrações, máxime pela itinerância das suas populações e pelas suas diásporas hoje consolidadas, através de cidadãos lusófonos espalhados pelo mundo, promotoras de vivências e narrativas culturais.

Assim, a conferência de Roma, introduziu a fala de Giorgio de Marchis (Universidade de Roma Três), com o tema “Cafraelização como Regresso às trevas”, Simone Celani (Universidade La Sapienza), com o tema “O romance das roças: história, ética, política e poética dos serviçais cabo-verdianos em São Tomé”, Graça Gomes de Pina (Universidade de Nápoles Oriental) – “Cabral Ka Mori” Intersecções sócio-musicais nas culturas portuguesa e crioula”, Fernanda Pratas (Universidade de Lisboa) abordou “Língua(s) e identidade entre nós Cabo-Verdianos em Nova Inglaterra”, Roberto Francavilla (Universidade de Génova), explorou “Raízes míticas ou épicas? O dilema da memória na literatura cabo-verdiana” e Giada Polo (Universidade La Sapienza) ponderou a questão “Cabo-verdiano spadjado na mundo”: melodias de proximidade na diáspora cabo-verdiana”.

O certame também fez recortes sobre “Relatos do Brasil na ficção e no jornalismo contemporâneo à luz da emigração: de Luiz Rufato a José Agualusa”, por Sónia Netto Salomão (Universidade La Sapienza), “Sertão, terra de fuga e resistência: representações literárias de retirantes e quilombolas”, por Michela Graziosi (Universidade La Sapienza). Num outro painel, Ana Paula Coutinho (Universidade do Porto) abordou “(In)visibilidades das diásporas” e Greta Usai (Universidade do Porto/Universidade La Sapienza) interpôs o tema “A terceira margem do Atlântico: os portugueses e os Estados Unidos nas histórias de J. R. Miguéis e Onésimo T. Almeida”.

Estes dois dias de trabalho, 15 e 16 de fevereiro, foram frutíferos e reveladores de quão importante e oportuno pensarmos por vários ângulos a problemáticas das migrações. Importante discutir as configurações migratórias e diaspóricas, a mobilidade e o seu impacto antropológico e multicultural no universo recortado da Lusofonia, sempre no contexto global. Centrando o debate académico nos Espaços Migrantes e Comunidades Lusófonas.

A mobilidade humana, assim como a migração, devem ser encaradas como um direito universal e vivida como uma consequência natural da necessidade e da escolha livre da circulação das pessoas no Planeta, afinal casa comum de todos, pelo que se impõe vivenciar - e narrar o contacto entre culturas neste nosso mundo contemporâneo.