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Juventude em marcha

O Atlas da Emigração Portuguesa publicado recentemente pelo Observatório da Emigração trouxe à tona uma realidade preocupante: cerca de 70% dos emigrantes nos últimos anos são jovens, com idades entre os 15 e os 39 anos. Esse dado alarmante deveria ocupar o centro dos debates políticos, especialmente à luz das próximas eleições legislativas. Afinal, a juventude representa um dos pilares fundamentais para o crescimento e a estabilidade económica de um país.

A esta informação junta-se à do relatório “A juventude mediterrânica e os desafios de uma crise permanente: rendimento, independência, habitação e desafios futuros”, elaborado pela Fundação Friedrich Naumann e pelo think tank espanhol ESADEEcpol,

que revela que 55% dos jovens portugueses, entre 18 e 34 anos, não têm capacidade de poupança, e 23% ainda residem com os pais devido às condições económicas que os impedem de alugar ou comprar uma casa própria.

As gerações jovens entraram no mercado de trabalho em desvantagem devido às crises permanentes, como a crise financeira global de 2008 e a crise pós-Covid. Com uma idade média de emancipação por volta dos 28 anos, 62% dos jovens portugueses não vislumbram a possibilidade de que os seus esforços laborais resultem numa qualidade de vida satisfatória.

A classe política tem negligenciado a implementação de políticas públicas eficazes para a inserção dos jovens no mercado de trabalho, contribuindo assim para o fenómeno de “fuga de cérebros” a nível nacional. Trata-se de uma geração altamente qualificada que enfrenta a precariedade das condições de trabalho em Portugal e que, por vezes, vê na emigração a sua única alternativa viável.

E esta tendência é percetível também na Madeira? Basta percorrer o centro das freguesias, na zona norte da ilha, para constatar que a idade média da população gira em torno dos 65 anos, como é o caso de S. Roque do Faial. O que pode ser feito para atrair os jovens para a costa norte? A criação de empregos, benefícios fiscais para jovens empreendedores que fixem a sua residência nas freguesias do Norte e o estabelecimento de centros de formação profissional especializados em áreas como turismo ou agricultura. Além disso, um fator crucial é a implementação de um sistema público de habitação para jovens, permitindo-lhes acesso a moradias, seja por meio de aluguer ou compra.

Onde está a nossa juventude? A nossa juventude está ativa e em marcha, mas rumo a outros destinos. São necessárias soluções permanentes para crises persistentes. Não seria necessário um “Programa Regressar” se as políticas públicas estivessem voltadas para o desenvolvimento de condições que incentivem um “Programa Ficar”.