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Análise

Semanas perdidas entre jogos e chantagem política

Forme-se um novo governo, aprove-se o Orçamento e convoquem-se eleições para Setembro/Outubro

A oposição vê cada vez mais trunfos para exigir eleições antecipadas na Madeira. Depois da saída inevitável de Miguel Albuquerque, Rui Barreto viu-se também forçado a abdicar da sua ‘cadeira de sonho’ numa tentativa desesperada do PSD/CDS/PAN manterem o poder na Região até 2027. Em três semanas os líderes dos principais partidos da coligação saíram de cena. Se sobre o arguido Albuquerque recaem suspeitas muito graves, Barreto vê também o cerco a se apertar, num partido que não sabe o que vale junto da população. O CDS dissolveu-se dentro do PSD e poucos argumentos terá para fazer qualquer campanha autónoma. Cinco anos no poder retiram-lhe autonomia argumentativa.

A adensar uma crise que começa a estender-se por tempo demasiado, com gravosas consequências económicas e sociais, por culpa da coligação tripartida, ficou bem visível, na sexta-feira, a chantagem que o PSD está a fazer junto do Representante da República. Recusa um novo governo de transição, exigindo um compromisso para a legislatura, como se nada tivesse acontecido, entretanto. Os social-democratas, cuja cúpula executiva foi decapitada, não estão em condições de fazer qualquer tipo de chantagem. Exigir governar até ao fim, agora, é pedir demais. O partido que liderou com maioria absoluta a Região até 2019 acabou. Perdeu força e está fragilizado, demonstrando um medo crescente de se submeter ao escrutínio popular ainda este ano. O que o PSD deve fazer é mostrar humildade e aceitar a nomeação de um novo governo que faça aprovar um orçamento o mais rápido possível. Não pode nem deve comprometer esse desiderato com qualquer tipo de condição à partida. É contraproducente.

Após o choque inicial provocado pela mega-investigação judicial que colocou Albuquerque no centro do furacão, o partido já deveria ter avançado para um novo governo, com caras novas. Mostrava desapego e capacidade de recrutamento de novos quadros, mesmo em tempos de convulsão. Não teve essa capacidade e enredou-se num processo calculista que lhe pode comprometer o futuro.

A decisão maior caberá depois ao Presidente da República, que a partir de 24 de Março poderá dissolver ou não o parlamento regional. Marcelo Rebelo de Sousa é imprevisível e nada garante que numa primeira análise aceite um novo executivo saído da actual maioria parlamentar. Isso já aconteceu no passado tanto na Madeira, em 1978, como na República, em 2004. O que não o impede de, na posse do seu poder de dissolução, usar a ‘bomba atómica’, depois.

Cabe ao PSD ter a clarividência necessária para rapidamente encontrar uma nova liderança, arrumar a casa e preparar-se para ir a votos durante este ano, mas com um programa e um orçamento aprovados no parlamento. O povo dirá, depois, se o seu projecto se mantém válido ou não. É isto a democracia. Já se perdeu muito tempo com jogadas para sobrevivência política.

P.S: É lamentável como alguns órgãos de comunicação social tratam as questões da justiça com a conivência e ajuda de alguns órgãos do próprio aparelho judiciário e policial. Há poucos dias uma estação de televisão assegurava, em horário nobre, que a pedra encontrada no gabinete de Pedro Calado era um diamante e que valia 50 mil euros. Quem atestou tal facto? A insuspeita Imprensa Nacional Casa da Moeda. Três dias depois soube-se pela própria Casa da Moeda que não tinha feito qualquer perícia à famigerada pedra, como não tem competência para tal.

Estas derivas deploráveis mancham a missão e o papel que os media têm na sociedade, que é o de informar com rigor, imparcialidade e cruzar as informações que lhes chegam. O jornalismo não se compadece com palpites e muito menos com informações lançadas sem obedecer às mais elementares regras e deontologia profissional.