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Política (Religiosa por interesse - Economicista por submissão)

Na India, país que decorridos 20 anos revisitei em agosto deste ano, confirmei que o que já antes era minha firme convicção: Em pleno século XXI, não pode haver política franca, séria e comprometida com os cidadãos, onde a religião não só existe em doses maciças, como é amplamente alvo de aproveitamento pelos agentes políticos.

É como um anestésico, que em resultado da angústia existente, permite que os políticos menos bem-intencionados se aproveitem da mesma matéria que alimenta todas as religiões, isto é, o sofrimento. A religião sempre foi e continua a ser, um instrumento indispensável da má política, com particular efeito no amansar das populações, e de maior impacto nas menos instruídas, usando os instrumentos disponíveis e instalados, como seja a fé religiosa, (assim como, a comunicação social comprometida, os arraiais e etc), para a coadjuvar no exercício da sua menos bem-intencionada atividade. Ou seja, um (mau) político, onde o espírito de servir não seja o elemento principal que o orienta, sendo servil ao seu ego, identifica na religião um aliado que não só refreia o exercício da racionalidade por parte da população, como também a mantém sob um manto de temores e dúvidas. Pelo contrário, a boa política está imbuída do espírito de servir, servir os outros, e principalmente, no esclarecimento das populações. Se trouxermos esta reflexão para a nossa realidade nacional e regional, em especial fora das grandes urbes, poderemos identificar, à nossa dimensão, algumas similitudes. Nem é preciso estar com muita atenção. Ora, esse não é o propósito da política, mas sim, trabalhar para construir um mundo melhor, mais justo, mais equitativo, mais humanizado, respeitando todos os seres, nunca deixando de olhar para a sustentabilidade na sua maior amplitude, tendo assim como objetivo cimeiro o bem comum. O conceito de política tem a sua origem no grego politikos, uma junção de polis, que significa cidade, e tikos que se refere ao bem comum. É fácil compreender que na raiz etimológica da palavra política, está o trabalhar para o bem comum, à época da antiguidade grega, nas cidades-estado, pois era assim que a organização administrativa, geográfica e política estava montada. Foi o filósofo Aristóteles, o primeiro a especificar o conceito de política, no seu no livro Política, onde define que o seu exercício é um meio através do qual se deve alcançar a felicidade dos cidadãos. Nesse sentido, o governo deve ser justo e as leis obedecidas. Com o desenrolar da aventura humana, a economia veio, também ela, marcar lugar cativo na política, e hoje é evidente, que quem governa não são propriamente os políticos, mas indiretamente, os grandes protagonistas da economia neoliberal. Os políticos governantes passaram a meros instrumentos dos grandes empresários, não tendo percebido, a tempo, que iriam ficar reféns, como ficaram, da “grande finança”. A má distribuição da riqueza hoje produzida, seja nas dimensões, mundial, nacional ou regional é um dos sinónimos de má condução da política. Os políticos governantes, “permitem” que uns poucos aforrem fortunas obscenas e que milhões vivam na miséria. No entanto, em democracia, a política está desalinho com a economia, pois tem como princípios a participação e legitimação pela maioria, usando uma metodologia de procura de consensos e de soluções, que resolvam os problemas maiores e da maioria dos cidadãos integrantes da sociedade, distribuindo de modo justo a prosperidade criada. O mercado, contudo, tem objetivos diferentes, sendo o seu alvo, a busca do lucro, e embora este possa ser subordinado ao interesse publico, por efeito de disposição legal, o certo é que os políticos governantes tratam essa possibilidade com “pinças”, dada a sua “vulnerabilidade” nas mãos dos grandes empresários. A não esquecer, é o fato de que todas as grandes conquistas civilizacionais, resultaram da ação política reivindicativa das populações, como sejam os direitos sociais e civis, sejam eles de natureza individual ou coletiva. Também a não olvidar, é a importância da política, a boa política, como instrumento de valor indispensável, pois na sua ausência, um resultado é garantido, a instalação do individualismo por desordem e a lei do mais forte como imposição.