Políticos desolados

- Ninguém pode avaliar o meu pesar. Mesmo que queira esquecer, não consigo, a desgraça que aconteceu ao nosso partido.

- Para mim, o que me revolta e é mais grave do que a miséria de votos que teve o nosso partido, foi aquele “mentiroso” do Albuquerque dizer que se demitia e não se ter demitido.

- Tens razão. Sou da tua opinião. Apesar de ele ter ganho as eleições em todas as cidades, Concelhos, vilas, ruas, becos, travessas e freguesias, se ele fosse homenzinho demitia-se.

- Exatamente. Melhor e com uma postura mais decente, esteve o nosso presidente!

- É verdade, meu amigo, esteve à altura do nosso partido. Quando soube daquela desprestigiante votação, da penosa e confrangedora humilhação, consciente que perdeu, pediu a demissão do adversário que venceu, “virou as costas” aos jornalistas e desapareceu.

- Notei, também, essa atitude excecional, de não querer incomodar os profissionais da Comunicação Social.

- Claro. Mostrou que era a pessoa talhada para governar esta Terra… arruinada!

- Por falares em “arruinada” fico a pensar numa coisa que me deixa a cabeça desaustinada. Se com a Madeira assim tão desgraçada, sendo a terra mais pobre do País – como a gente diz – desnivelada socialmente, com problemas na habitação, salários baixos, inflação nos altos e prenhe de compadrio e corrupção, eles ganham as eleições em toda a Região, caso governassem bem, quantos deputados elegeria a oposição?

- É melhor não pensarmos nisso porque damos cabo do juízo.

- Bom, uma coisa temos de dizer: Somos a única alternativa de PODER. Já meu avô dizia, também a meu pai lhe parecia e nós temos isso como certo. Se não for para o tempo dos nossos filhos, a Madeira será governada pelo nosso partido pela altura dos nossos netos.

- Tens razão camarada e amigo. Essa esperança e essa fé, também moram cá dentro comigo.

- 47 Anos na oposição e mantendo sempre o 2.º lugar, é um marco histórico a salientar.

- Pois. E se é verdade que para governar não temos sido convidados, ninguém nos pode tirar o mérito de sermos uma das maiores “fábricas regionais de deputados”!

- Exatamente. E fico muito contente por termos dado uma “bela vida” a muita e boa gente.

- Sim, mas nesse particular, temos que concordar, que não somos únicos, não estamos sozinhos, os outros também praticam essa generosidade com os seus amiguinhos.

- Tens toda a razão, sou da mesma opinião. Há gente ali, na Assembleia, que já passou tantos Natais, tantas Páscoas, tantas Festas da Flor e tantas Festas do Vinho, que só vão sair de lá quando não arrastarem os pés ou forem para São Martinho!

- E com àqueles partidos mais pequeninos, o povo ao dar-lhes mandatos agiu com juizinho?

- Agiu com juízo, não tenhas dúvidas disso. Nesta crise amaldiçoada, uma família pela sorte bafejada, ter um membro na Assembleia como deputada ou deputado, (como se sabe, bem remunerada ou remunerado,) durante quatro anos tem o orçamento familiar salvaguardado.

Mesmo aquilo que possam falar, gritar, protestar, escrever ou discursar, não tenha influência, não sirva para nada, no fim do mês está segura a mesada.

- Bom, vendo desse jeito, Nosso Senhor que lhes faça bom proveito.

- Agora já falamos, descarregamos as nossas emoções, aliviamos os nossos corações, vamos para casa, em harmonia, em paz, que daqui por quatro anos há mais.

- Íamos, amiguinho, mas parece que há novo inferno com a “nossa” Junta de Freguesia de São Martinho.

Juvenal Pereira