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Análise

Mais do que um dever, uma obrigação!

O salário não cobre as despesas do mês. Isto merece reflexão e sobressalto

Não há desculpa verosímil para que um eleitor abdique de votar. Sempre me fez uma imensa confusão invocar-se o direito à abstenção. Custa-me aceitá-lo. Hoje é dia de eleger os representantes do povo na Assembleia Legislativa da Madeira. Existem 13 listas no boletim. Mesmo que não se identifique com nenhuma delas, isso não serve de desculpa para ficar em casa. A democracia exige esse esforço, o cumprimento do dever cívico. Quem opta por se abster abre mão do seu futuro, de participar na vida colectiva da sociedade, de poder exigir o cumprimento de promessas e de soluções. Votar não é um hábito que passou de moda, nem um acto que não resolve nenhum dos nossos problemas. Devemos esta possibilidade de participação aos que se bateram durante décadas por este direito. A abstenção não resolve nenhum problema, adensa-o. Quem se demite de escolher o parlamento do qual sairá o futuro governo resigna-se e aceita que os outros decidam por si.

É verdade que uma parte considerável que pulula na política não é apetecível nem recomendável para uma sociedade que deixou de se interessar por jogos laterais e mesquinhos em que muitas vezes os políticos se enlameiam. Mas não podemos tomar a ‘árvore pela floresta’ e isso não é, por si, suficiente, para deixarmos de participar na escolha dos nossos representantes, os que vão tomar medidas que influenciam o rumo das nossas vidas. Há mais de uma dezena de partidos em jogo nas eleições que hoje se realizam. As sondagens publicadas são barómetros que o eleitor pode ter em conta, mas não resolvem uma eleição. Esse desiderato é da nossa competência exclusiva, que culmina no depósito solene da nossa vontade na urna. E há tanto por resolver numa Região que ainda se debate com sérios problemas sociais e que começa a atravessar o Inverno demográfico: de acordo com os últimos Censos, pela primeira vez, a proporção de crianças e jovens com menos de 15 anos na Região foi inferior à média do país (12,6% na Madeira, para 13% em Portugal), tendo sido registada uma descida de 27% numa década, enquanto no país a queda foi de 14%, divulgou a Rádio Renascença na última sexta-feira. Como sabemos o número de idosos na Madeira ultrapassou, pela primeira vez, o de jovens. O saldo natural entre nascimentos e mortes foi negativo em 2022. Todos estes indicadores, estruturais, são preocupantes e merecem a nossa atenção e acção política imediata.

Para complicar o cenário vivemos um momento de aperto, de juros altos e de inflação galopante. Há cada vez mais pessoas que trabalham e são pobres. O salário não cobre as despesas do mês. Isto merece reflexão e sobressalto. Se é certo que uma região autónoma não tem, por si, a capacidade para resolver directamente nenhum desses problemas, pode, com a implantação de medidas, através dos instrumentos que tem à sua disposição, mitigar as suas consequências. Todos os partidos apresentaram propostas e avançaram com diversas soluções nas últimas semanas. Cabe-lhe, agora, avaliar e escolher quem melhor está à altura de conduzir uma política eficaz, quem apresenta os melhores quadros para a concretizar, e votar. Por si, por nós, pela democracia.