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Estudo reconhece "influência política notória" na comunicação social da Guiné-Bissau

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Um estudo hoje publicado em Bissau reconheceu a existência de "influência política notória" nos órgãos de comunicação social, nomeadamente nos controlados pelo Estado guineense com os políticos a contactarem jornalistas para lhes dar orientações editoriais.

O estudo, levado a cabo pela Associação de Mulheres Profissionais da Comunicação Social (Ampporcs), resultou de um inquérito, realizado em 2022, a 100 jornalistas guineenses, entre os quais 70 do sexo feminino.

"O presente trabalho de inquérito demonstra claramente a falta de independência económica dos jornalistas guineenses, a interferência política nas tarefas dos profissionais da comunicação social e a falta da vontade política em garantir a liberdade de imprensa e de expressão, assim como defender a integridade física e moral das mulheres e dos homens da imprensa guineense", refere o documento.

O estudo apresentado na Casa dos Direitos, dá o exemplo de situações concretas de alegada interferência política nos órgãos de comunicação social.

"Os políticos apesar de não terem noções básicas do jornalismo, ligam frequentemente para os diretores a fim de dar orientações sobre como os assuntos dos seus interesses devem ser tratados, e os diretores por sua vez dão ordens aos jornalistas", realça o estudo.

Refere ainda que "em certos órgãos", sobretudo públicos, "há jornalistas que se transformaram em satélites de partidos políticos".

"Em vários órgãos de comunicação social, sobretudo nos públicos, há uma regra não escrita de progressão na carreira baseada mais nas convicções políticas do que no fator mérito", assinala o estudo.

Refere ainda que a maioria de jornalistas inquiridos admite a inexistência de liberdade de expressão na imprensa na Guiné-Bissau, citando casos de profissionais e órgãos de comunicação social encerrados por ordens das autoridades políticas ou alvos de ataques com armas de fogo por pessoas desconhecidas.

O inquérito apurou ainda que existe um clima de intimidação aos jornalistas, por parte "de certas figuras do Estado" guineense quando os profissionais lhes colocam questões em conferências de imprensa.

O inquérito concluiu também que a grande maioria dos jornalistas de órgãos de comunicação social guineense não recebe um ordenado fixo e os órgãos que o fazem "pagam ordenados baixos".

Destaca ainda que existe "uma clara" falta de autonomia e segurança financeira dos jornalistas guineenses, ameaça à sua liberdade de ação, violação da sua integridade física e moral, censura e autocensura, divisão da classe e ausência de neutralidade no tratamento da informação.

O estudo apela aos parceiros da Guiné-Bissau para que, no quadro da "influência diplomática", reforcem "o papel de advocacia" junto das instituições guineenses para mitigar as violações da liberdade de imprensa e de expressão bem como ataques aos profissionais e órgãos de comunicação social do país.