A Praia Roubada

“A Praia Roubada” é o título de um livro de Joanne Harris, que já tive o prazer de ler. Ao contrário deste que é ficção, assiste-se a esta realidade diariamente na nossa terra. As autoridades competentes, e quiçá a população, ainda não perceberam que os recursos não são infinitos e que ao contrário das bananas que crescem nas bananeiras, e cortando uma, cresce outra ao lado, com as pedras não é a mesma coisa. As praias de calhau rolado, só existem porque são “alimentadas” por ribeiras que trazem esse material para a zona costeira. Ora havendo e bem, um desassorear das ribeiras, para facilitar o escoamento da água e desobstrução, essa “alimentação” das praias faz-se com menos material. Se acrescentar-mos a retirada de camiões e camiões de pedra das praias, está fácil de ver que estas ficarão despojadas de pedras no futuro. Não será muito difícil entender que quanto menos pedras uma praia tiver, menos área de praia haverá e como consequência mais facilmente o mar chegará ao que quer que esteja por detrás dessa praia. Se juntarmos a isso a subida graduar dos oceanos, provocada pelas alterações climáticas, que não estão assim tão longe no tempo como se pensa, chegaremos facilmente à conclusão que as praias serão “roubadas” pelo mar. E mais, substituir praias de calhau por cimento, embora seja mais confortável para estender a toalha, descarateriza a beleza e naturalidade do lugar. Basta olharmos para fotos antigas de qualquer praia na Madeira para vemos que a extensão das praias era muito maior do que é agora. É também uma prática comum na ilha, antes do verão colocarmos máquinas de lagartas para alisar a praia. Ora essas mesmas lagartas de metal, acabam por partir imensas pedras, criando pontas afiadas, impróprias para o comum banhista, mas mais adequadas a faquires, além de cobrirem com um pó que se entranha nas pedras, perdura até ao fim do verão e que só sai com as primeiras chuvas ou levadias. Urge mudar este paradigma de gestão das praias madeirenses! Podemos num futuro qualquer chegar à conclusão, que temos de alimentar as nossas praias com mais pedras, e aí serão porventura os mesmos que as levaram os mesmos que as trarão. Que grande negócio: molhadas para cima, enxutas para baixo!

António Freitas