Imbecilidades

Terá dito Einstein que: “a estupidez humana, como o Universo, não tem limites”. Se o disse ou não, é o que menos me preocupa, sendo certo que o alcance da frase, independentemente do seu autor, é claro e evidente.

Acabamos, aliás, de ter prova plena de tal dimensão da imbecilidade quando, energúmenos (anónimos, como de costume), conspurcaram o Padrão de Descobrimentos erigido em Belém, na cidade de Lisboa, com frases que, supostamente e em síntese, seriam de protesto contra o colonialismo português.

Não sou, nunca fui, nunca serei, dos saudosistas do suposto império português. Ainda apanhei, já no estertor final, as atoardas da “Pátria de Minho a Timor” que, devo dizer, nunca me convenceram. As minhas sessões escolares dedicadas à Mocidade Portuguesa resumiram-se (felizmente!) a cantar “A Portuguesa”, com a mão direita estendida, ao comando da professora e, unicamente, aos sábados de manhã. Em 5 minutos ficava despachado o dever patriótico!

Conheço, no entanto - e penso que razoavelmente -, a história de Portugal e da sua expansão para além da Península Ibérica. Enquadro nos parâmetros e conjunturas sociais, económicas e políticas das épocas em que ocorreram, os sucessivos episódios relacionados com o apossamento, colonização e exploração (sem discutir, por ser ocioso, se foi achamento ou descoberta) de territórios em África, América e Ásia. É inegável que houve submissão, aprisionamento e exploração extremamente injusta dos povos que viviam nas regiões achadas ou ocupadas.

A escravatura é indefensável a qualquer título. Já o era quando praticado pelos povos antigos e continua a sê-lo nas formas mais sofisticadas que assume atualmente: sim, porque manter um trabalhador estrangeiro numa exploração económica, assegurando-lhe apenas alojamento e o mínimo de alimentação, retirando-lhe o passaporte e condicionando, nomeadamente por via de créditos usurários e impagáveis, o acesso à sua família de origem e ao exterior em geral, é escravatura!

Seja como for, a História não se reescreve ao sabor das nossas culpas ou das nossas convicções. Aconteceu o que aconteceu e temos de compreendê-lo de acordo com toda a conjuntura da época. Não tenho de concordar ou discordar com o que os meus antepassados, e outros povos, fizeram! Tenho, apenas, de conhecer o pormenor e analisar tais ações e situações à luz do quadro político, económico, social e cultural da época. E, sobretudo, não vou apagar aquilo que, mal ou bem, fizeram!

Com esta certeza, os marcos e padrões, as memórias do passado que ao longo dos tempos se foram erigindo, são, sobretudo, testemunhos do passado. A propaganda fascista e nacionalista quis sempre colocá-los como inspiração do futuro, mas não é isso que o comum dos cidadãos entende ou vislumbra perante tais monumentos. Fazem, apenas, parte da história!

Hoje, a rebelião inopinada, desinformada e muito histérica, desata a pinchar, desfeitear, ou até destruir, os quadros, esculturas, monumentos e tudo o que representa o nosso passado. Melhor seria que promovessem a consciencialização dos erros que a nossa nação cometeu e a forma de abordar o futuro com tal consciência. Infelizmente, porém, a gritaria chama sempre mais atenção!

João Cristiano Loja