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A AACMM: a história continua…

Como se fosse ontem. Mas já lá vão 30 anos. A nossa mente brinca connosco e, às vezes, o que aconteceu há décadas parece ter acontecido quase ontem, e o que vivemos ontem deixamos para trás para sempre. As minhas memórias da primeira aterragem na Madeira, da primeira passagem pela estrada (antiga) do aeroporto para o Funchal, da primeira entrada no Conservatório – todas gravadas com cores e sons. Tal como a primeira oportunidade de me apresentar na Madeira enquanto pianista, passados apenas três meses, convidado para tocar com a Orquestra de Câmara da Madeira no lançamento duma nova associação cultural que praticamente não conhecia.

Nada me fez crer que, apenas quatro anos mais tarde, seria convidado para me encarregar da continuidade de atividade dessa mesma associação e que, passados 26 anos, continuaria a trabalhar em prol da sua missão e dos seus objetivos. No dia de hoje, em que esta associação, a Associação dos Amigos do Conservatório de Música da Madeira, celebra os 30 anos da sua existência e atividade na apresentação de concertos de música erudita, recordo com carinho e ternura (se bem que na altura foi com angústia e, às vezes, com desespero) as peripécias, “doenças infantis” e curiosidades dos primeiros anos. Anos de primeiras experiências da produção em computador e construção de cartazes grandes, imprimidos em três partes A3 depois coladas (imprimir um grande era uma coisa cara), de procura de lugares autorizados para poder publicitar os eventos, de procura de apoios quase inexistentes (e quando e onde é que a receita de bilheteira consegue compensar os custos de apresentação dum artista consagrado na área da música erudita?), da insistência na apresentação regular de eventos (sem a qual não se estabelece e afirma a existência nem se atrai os públicos), custe o que custar, de procura da afirmação da qualidade dos eventos que nos possa garantir a presença no palco mais cobiçado do Funchal, o do Teatro Municipal…

Entretanto, a Associação continuou a crescer e a atrair cada vez mais interesse por parte dos artistas renomados que muitas vezes vinham à Madeira mais por curiosidade de visitar a ilha do que pelos honorários dignos que havia para oferecer. Cresceu também, porque a sua afirmação no panorama cultural da Região resultou no aumento da sua capacidade de apoiar jovens alunos de música na procura das competências artísticas e afirmação, tanto aqui como fora da Região (a memória vai aqui elegantemente permitir esquecer os anos da Troika).

Cresceu porque, nestas vertentes da sua missão, pôde contar com a compreensão e o apoio da casa que acolheu e alicerçou os seus inícios, o Conservatório de Música da Madeira, uma parceria que a seguir continuou a se desenvolver já em articulação com o Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira. Devemos muito a essa instituição única de ensino artístico oficial na Região, tanto ao longo da caminhada do passado como nas atividades do presente. Mas a própria criação da Associação não teria acontecido se não tivesse sido motivada em grande parte pelo desejo de contribuir para o futuro e sucesso dos jovens músicos. E a Associação também não teria sobrevivido sem vários apoios, tanto governamentais e municipais como institucionais e empresariais.

Dá um enorme prazer a uma pessoa lembrar se das caras (e das atuações, claro) de todos os artistas que vieram à Madeira por nosso convite. Dá um prazer igualmente grande lembrar-se das caras de todos os jovens que conseguimos apoiar nalguma parte da sua aprendizagem e que, em muitos casos, também se estrearam e apresentaram nos nossos concertos. Ainda mais quando agora essas pessoas, já crescidas, são colegas no Conservatório. Pois esse retorno reforça e valoriza a nossa razão de ser, enquanto as nossas atividades musicais contribuem para a diversificação, crescimento, representatividade e excelência da oferta cultural na Região.

A Associação continua a existir para os alunos, os seus encarregados de educação e os seus professores, tal como para os seus fieis sócios, melómanos e todos os que têm o bem da música, arte, educação e cultura no seu coração. É uma enorme felicidade que a nossa Associação sente por ter tido a oportunidade de, ao longo destas três décadas, servir a estes interesses diversos, os quais, afinal, se resumem num lema só: viver plenamente o presente e ajudar a construir o futuro.