A Guerra Mundo

"A Europa continua a ser fraca sem a liderança dos Estados Unidos"

Foto Robert ATANASOVSKI/AFP
Foto Robert ATANASOVSKI/AFP

O analista político e ex-assessor do Departamento de Defesa dos EUA Robert D. Kaplan defende que os países europeus devem coordenar as políticas de defesa para fortalecer a região, que acredita ser fraca sem a liderança norte-americana.

"A Europa continua a ser fraca sem a liderança dos Estados Unidos. Imagine se [o ex-presidente Donald] Trump tivesse sido eleito em 2020 e [o Presidente russo] Valdmir Putin tivesse invadido a Ucrânia? Qual seria o estado da Europa agora? Não sabemos, mas seria muito diferente e provavelmente muito pior", afirmou, em entrevista à agência Lusa, em Lisboa.

"Uma solução seria que todos os países coordenassem as suas políticas de defesa e mesmo assim teríamos o problema da liderança, porque conseguir que tantos membros concordem com algo é muito difícil, especialmente porque a Europa tem posições estratégicas diferentes", defendeu Kaplan.

O analista político e autor de mais de uma dezena de livros sobre questões geopolíticas e temas internacionais considera que, apesar da Europa estar numa melhor posição para enfrentar a guerra do que, por exemplo, há dois anos, "continua a ser menos do que a soma das suas partes".

"Cada país tem a sua própria política de defesa, em vez de se coordenar com os outros. Não estaríamos a assistir a esta unidade europeia [perante a guerra] se não fosse a política eficaz da administração Biden", defende.

Exemplo do papel, num sentido diplomático, "muito forte" dos Estados Unidos nesta aproximação, é ter enviado "dezenas de milhares de milhões de dólares em armamento para a Ucrânia".

"Em comparação com isso, o que a Europa fez foi pouco", vaticina.

Defendendo o papel da atual administração norte-americana, o analista político está convicto que "este é a mais importante exibição de poder americano desde a primeira guerra do Golfo", em 1991.

"A equipa de Joe Biden, a equipa política externa que tem é a mais eficaz desde a de George HW Bush, James Baker, Brent Scowcroft e outros. Há 32 anos que não víamos uma demonstração de poder americano tão eficaz e bem administrada como a que estamos a assistir", disse.

O consultor de assuntos internacionais considera que se vive "num mundo mais claustrofóbico", no qual os Estados Unidos têm uma dupla tarefa: por um lado, liderar a Europa e por outro lidar com a China.

"Não pode fazer apenas um dos dois trabalhos, tem de fazer os dois e isso irá constituir um verdadeiro desafio para a liderança, economia e sociedade americana", afirmou.

Ainda assim descarta a ideia da China se substituir aos Estados Unidos como a primeira potência mundial.

"Os EUA são uma democracia, o que significa que todos os seus problemas estão à vista de todos. A China é uma autocracia rígida, que tem mais problemas, mas estão mais escondidos, por isso ninguém fala ou tem consciência sobre eles. Penso que a China é menos estável do que as pessoas imaginam", argumenta.

Questionado sobre as futuras eleições norte-americanas, Kaplan acredita que não se sabe o que vai acontecer até ao início dos debates.

Apesar de admitir que a proliferação de candidatos com menor peso às primárias do Partido República pode beneficiar Donald Trump, também avisa que após as primárias tudo será diferente face há oito anos.

"Se olharmos para a história das campanhas presidenciais americanas, há sempre grandes surpresas. Trump foi uma surpresa, ninguém estava à espera dele", recorda.

Para o analista, "há oito anos Trump era o rufia e ninguém estava preparado para ele, pelo que conseguiu a nomeação e foi eleito presidente", mas "desta vez, é possível que alguns dos candidatos lidem de forma mais eficaz com ele no palco do debate, o que poderá alterar totalmente a dinâmica".

"Além disso, agora [Donald Trump] é uma figura muito mais fustigada do que era há oito anos. Ele atualmente não tem apenas uma questão judicial, tem várias", salientou.

Robert D. Kaplan é autor do livro "A vingança da Geografia", recentemente editado em português pelo Clube do Livro, analista político, consultor e investigador, tendo sido professor na Academia Naval dos Estados Unidos e nomeado duas vezes pela publicação Foreign Policy como um dos 100 pensadores mundiais.