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Uma (ga)lambada e um gelado para a dor

E Marcelo está hoje contente a fazer o que mais gosta: comer croquetes. Na distante Londres, longe da confusão que ajudou a criar, com os seus planos maquiavélicos para comer gelados e a fingir que não é nada com ele. A (ga)lambada que Costa lhe deu ainda deve estar a doer no ego, mas um dia tinha de provar do próprio veneno, mesmo acompanhado de chocolate e morango em forma de cone e para comer de colherzinha.

Costa não tem acertado muito com as suas escolhas. Como eu o entendo. Também nós, na vida, passamos por isso. Às vezes compramos uns sapatos que estão confortáveis na loja, mas depois começam a criar-nos feridas. Acho que este governo é um sapato de número errado para Costa. Quando o experimentou, em 2022, servia perfeitamente, mas depois de andar uns tempos com ele, começou a dar chatices. Não lhe serve, criou-lhe bolas nos pés e dores no cargo. Já perdi a conta aos números, mas acho que foram para aí uns quinze membros do Governo que foram para outra sapataria.

Enquanto isso, o outro come gelados e faz os seus números de circo para continuar a ter as atenções que ainda colhe, a usar pantufas, porque a ele não lhe doem as escolhas. Simplesmente, porque não tem de as fazer. Só tem de aceitar as que lhe levam. Mas adora dar umas lambidelas à frente de um país cada vez mais atrofiado, pobre, grevista, contestatário.

Costa, não há como negar, deu uma grande (ga)lambada em Marcelo, mas não pode manter no Governo alguém contra a sua vontade, a não ser que tudo isto faça parte de um jogo entre os dois para chatear o inquilino de Belém. Não me espantava nada. Ele gosta disso. E sabe que o outro não gosta. A coisa caiu tão mal que foi preciso um gelado para desviar as atenções. É sempre assim, adora criar factos. E quando os holofotes estão virados para o outro lado, faz aqueles números de contorcionista para se virarem na sua direção. Não sabe viver sem chamar a atenção. E depois aparece com aquele ar de virgem ofendida a ameaçar este mundo e o outro. Só faltava fazer a declaração política de gelado na mão.

Costa tem a cabeça a prémio. Não é novidade, mas vai ter de mudar de sapatos para conseguir correr até ao fim deste mandato, o que já pouca gente acredita. É muito erro, muito escândalo, muita bolha nos pés. Enquanto tenta pôr uns pensos para não ter de remodelar meio governo, Marcelo come croquetes gourmet em Westminster e vê a banda passar. A cara ainda está dorida da (ga)lambada que Costa lhe deu quando se meteu na vida do Governo. Mas a minha mãe dizia que uma coisa fria passava a dor. Deve ter sido por isso que comeu o gelado.