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O jogo da condessa

Brincadeira habitual no campo, em meados e finais do séc. XX

Alguns grupos de folclore incluíram no seu repertório o jogo da condessa, cujas versões não são exatamente iguais. Recentemente eu encontrei um rascunho de minha mãe*, no qual descreve o jogo da condessa, tal como ela brincava quando era criança, na década de 1940. Aqui deixo esta versão que minha mãe apontou:

Uma rapariga coloca-se no centro de uma roda formada por outras quatro ou cinco raparigas. A do centro faz de condessa e as outras são as suas filhas. Estas, enquanto rodam, seguram nas pontas do vestido da condessa que está no centro. Um pouco afastado está um rapaz que circunda a roda ao contrário enquanto canta em quadras e a condessa responde em forma de despique.

Estas são algumas dessas quadras entre o rapaz e a condessa.

Rapaz
Ó condessa ó condessinha,
Condessa de Aragão,
venho pedir-te uma filha
destas todas que aqui estão.

Condessa
As minhas filhas não dou
nem por outro nem por prata,
muito custaram a criar,
e o dinheiro logo se gasta.

Rapaz (com ar de desânimo)
Tão alegre que aqui vim
tão triste me vim achar,
pedi a filha à condessa
condessa não a quis dar.

Condessa
Volta atrás ó cavalheiro,
por seres homem de bem,
eu te darei minha filha
se tu a estimares bem.

Rapaz (mais alegre, enquanto roda apontando para cada rapariga na roda)

Estimo estimarei
sentado numa almofada,
enfio continhas de ouro
vem cá minha esposada.

(Quando termina a quadra, o rapaz segura na mão da rapariga para a qual apontava no fim da quadra, e a rapariga sai da roda)

Condessa (com ar triste)
Já lá foi a minha filha,
filhinha que Deus me deu,
fechei os olhos ao mundo
ai meu Deus que lá vou eu!

(A roda fica sem uma rapariga e recomeçam as quadras, até que no final fica apenas a condessa e o rapaz e termina o jogo)

* Margarida Rodrigues publicou um livro “Quadras Populares” em 2006 e faleceu em 4-7-2015.