Análise

Quem quer trabalhar?

Onde andam os 9.025 desempregados nesta região em que falta mão-de-obra?

O presidente do Governo Regional garantiu solenemente na semana passada que a Madeira é uma referência nacional. Por ter estabilidade e estratégia, lucidez e criatividade, beleza e atractividade. Miguel Albuquerque tem visto gente de vários quadrantes, desde a política ao jornalismo, elogiar a dinâmica insular que contrasta o marasmo de outras paragens, obra que poucos atribuem à Autonomia conquistada, pois, tal como tantos outros por esse País fora, a desconfiança ainda anda de mão dada com a intriga e com a ignorância. Se não fosse a Autonomia, que um dia desejamos seja mais emancipada, madura e pujante, sem garrotes, nem barretes, muito do que já foi feito seria uma miragem. Não admira por isso que o líder madeirense tenha orgulho nas opções que toma no quadro constitucional a favor de quem prefere a regionalização ao centralismo, mau grado a necessidade de repensar processos e expedientes, de mediatizar pedagogicamente os méritos de ter capacidade para legislar e de escolher uma administração de proximidade. Neste quadro, a Região devia dispensar tutores, mandatários e representantes pois Portugal cumpre-se com rigor nas ilhas livres, de tal forma que geram entusiasmo nacional, da direita à esquerda.

Os relatos de gente genuína que aprecia desenvolvimento e progresso não são passíveis de serem comprados, mesmo que possam não ter todos os dados na hora da partilha da avaliação generosa. E há inevitavelmente pormenores que escapam a quem vê de fora, por exemplo ao nível do desemprego, que registou “uma quebra histórica” na Madeira em Abril, atingindo o “valor mais baixo dos últimos 14 anos”.

O feito enfatizado pelo Governo Regional resulta do facto de haver menos 4.055 desempregados, em comparação com o mesmo mês de 2022, sinal que a economia mexe e muito, de tal forma que, várias empresas começam a sentir dificuldade em manter a porta aberta, por falta de mão-de-obra. Ou seja, temos 9.025 desempregados na Região que ninguém sabe onde andam enquanto há quem desespere com a falta de gente para trabalhar.

O desespero é tal que das áreas que mais crescem com o turismo nos têm chegado apelos vigorosos para que “alguém faça alguma coisa”, para que haja menos fugas dos locais às propostas sérias de trabalho, mudando um sistema permissivo e que favorece o biscate e a economia paralela e para que haja menos entraves à entrada de trabalhadores de outras paragens desejosos de agarrar oportunidades, mesmo que não dominem a língua portuguesa.

De pouco nos serve dar vivas à “trajectória consolidada nos indicadores referentes à Madeira”, como o fez a Secretaria Regional da Inclusão Social e Cidadania, e dar vivas à redução do número desempregados da lista se os desequilíbrios se acentuam. E se por falta de qualidade na formação e falta de tempo para a aprendizagem, os que entram de rompante no mercado de trabalho sonham desde logo em experimentar algo menos penoso e mais bem pago.

A caminho das ‘Regionais’, urge pensar no assunto e apresentar soluções. Mesmo que Miguel Albuquerque garanta que “aqui nós apoiamos quem quer trabalhar e não quem quer vadiar e viver à custa dos outros”.