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Democracia está "formalmente consolidada", mas "há movimentos que preocupam", avisa presidente da CEP

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considera que a "democracia formalmente está consolidada" em Portugal, "ninguém pensa voltar para o fascismo, mas há movimentos na sociedade que não deixam de preocupar".

Após a revolução de 25 de Abril de 1974, os primeiros anos "foram cruciais, mas tivemos gente à altura. Hoje, com a mudança radical deste mundo, com as dificuldades que temos e com a evolução também geoestratégica que está em curso, precisamos de rever de novo a nossa democracia", alerta José Ornelas, em entrevista conjunta à agência Lusa e à agência Ecclesia.

"E os perigos estão aí à vista", diz o prelado, adiantando: "é preciso que tenhamos consciência. Às vezes, a corrupção, a situação de desencanto da população, isto pode ser muito grave para a democracia. Sobretudo, preocupa-me que os mais jovens tenham pouca apetência para se comprometerem na política".

Presente no parlamento na receção ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, e na cerimónia evocativa do 25 de Abril, José Ornelas faz questão de sublinhar que, há 49 anos, aquele "foi um dos dias mais felizes e marcantes" da sua vida.

"Lembro-me que na tarde do 25 de Abril de 74, quando já as coisas pareciam estar confirmadas, nós tínhamos um radiozinho de ondas curtas, onde seguíamos as transmissões das colunas militares que eram enviadas para aqui e para ali. Então, quando aquilo já parecia seguro, depois da rendição do Carmo, um padre italiano, que tinha vivido no tempo do fascismo, dizia-me: Ornelas, olha a revolução. Este é um dia muito bonito, vocês vão recordar sempre. Mas agora é que começa a questão de construir a democracia", lembra o presidente da CEP, que acompanhou as ações do dia da revolução a partir do seminário de Alfragide.

Questionado sobre a utilização da crença religiosa por parte de responsáveis políticos para passar a sua mensagem, José Ornelas avisa que "a manipulação da fé é trágica".

"Penso que toda a gente tem o direito de fazer a sua leitura das coisas segundo a ideia que tem, até da sua própria fé. Agora eu, esse filme, já o vi muitas vezes", disse José Ornelas, lembrando a Guerra de África e a mensagem de que Portugal estava "a defender a fé e o império".

E alerta que "é muito fácil a gente deixar-se ajustar por critérios que são de regresso ao passado e dizer 'estávamos muito melhor antes".

A crise que está a afetar muitas famílias em Portugal preocupa também este responsável eclesiástico, que diz não ter dúvidas acerca da "dificuldade que é gerir um país neste momento. Gerir o país, a Igreja, etc. E mesmo opinar sobre coisas destas..."

Jose Ornelas questiona as prioridades dos agentes políticos no caminho para encontrar soluções para os problemas sociais: "o que se põe em primeiro na ordem das prioridades? Resolver os problemas do país e, portanto, ceder aqui e ali, porque é o país que está em causa? Ou encontrar simplesmente a lógica do meu partido, a lógica da minha corporação, a lógica do meu sindicato, a lógica de eu patrão, ou o que for?"

"O objetivo que eu penso que deve ser o da política é encontrar caminhos de convergência, para que os problemas sejam resolvidos e não fiquem franjas da população para trás", advoga o presidente da CEP, sublinhando que a crise já está a fazer-se sentir também nas instituições sociais da Igreja, "particularmente naquelas que estão ao serviço de pessoas com dificuldades económicas".