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Desgaste da classe política

Tenho vindo a assistir, como todas as pessoas atentas e interessadas na causa pública, a um desgaste contínuo e sistemático da classe política (aprofundado por membros da mesma classe que se colocam numa posição de sobranceria).

Esse desgaste será desencadeado, também, pela atuação de alguns políticos que não cumprem os seus deveres e não tratam corretamente da coisa pública, enquanto detentores de cargos públicos. Com certeza. Essas atuações deverão ser tratadas em locais próprios, na esfera da Justiça e punidos se tiverem prevaricado.

Mas, creio, que aquilo a que se tem assistido, cada vez mais, é à especulação, às notícias baseadas em fugas de informação, casos empolados, suspeitas, e menos informação baseada em factos concretos que sejam realmente importantes para os cidadãos. Acrescenta-se ao rol, a devassa da vida privada, a ridicularização das figuras públicas, a desvalorização da sua capacidade e desconfiança das suas ações. A verdade é que se o nome de alguém é mencionado e ligado a alguma suspeição, mesmo que se prove o contrário, fica sempre a dúvida e dificilmente se recupera o mesmo grau de inocência à luz da opinião pública. Acontece que grande parte da comunicação social nacional tem contribuído para esse desgaste. Quem é que se quer expor ao ataque público constante?

Mas não é apenas a comunicação social que tem tido um papel ativo no desgaste da imagem dos políticos. A atuação do Ministério Público, no caso que levou à queda do Governo, assemelha-se a um justiceiro, colocando sob suspeita todos (ou quase) os detentores de cargos públicos. Não ponho em causa a importância, complexidade e exigência da função do Ministério Público. Mas considero que também é passível de errar, nem que seja por excesso de zelo. A classe política não está isenta, naturalmente, e sobre ela impende a principal responsabilidade de zelar pelos princípios do Estado democrático, respeitando os valores que lhe estão subjacentes.

Para que eu não seja acusada de tendenciosa, até vou citar Rui Rio a propósito da atuação do Ministério Público, que o colocou sob suspeita em diversos processos, “Se os políticos não tiverem coragem de dizer basta, vai haver um momento em que alguém vai dizer chega”. E tinha toda a razão, porque já começamos a ver os efeitos: o pensamento antidemocrático está a crescer.

Porém, aquilo que realmente me preocupa não são os efeitos nos políticos, porque o tempo ajudará a recompor a imagem. Fica em risco a própria Democracia, à medida que as pessoas válidas se vão afastando da política, ficando aquelas que a desvalorizam e menosprezam.