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November

(em inglês, para que nenhum género se sinta ofendido)

Este foi mais um mês quente, convidativo a banhos como se fosse Verão, e tão “silly” como o Verão costuma ser!

São as alterações climáticas, diz quem sabe da poda e, na realidade, estas têm-se feito sentir, de tal modo que as cabeças podem começar a torrar qual ovo estrelado com a gema a liquefazer e a clara a endurecer, quer-se dizer, duro por fora, mas sem qualquer firmeza por dentro.

As altas temperaturas a fazerem liquefazer cérebros, não o fazem só por cá, também se fazem sentir em quase todas as partes deste mundo cada vez mais desregrado e com uma inética (ausência de princípios, de zelo, de carácter, de moral e de respeito com os direitos do outro) acentuada: por cá, por lá e por aí além!

Senão vejamos: aqui ao lado no país de “nuestros hermanos” (sempre ouvi dizer que de lá, nem bom vento nem bom casamento) que, seguindo exemplo do que se fez do lado de cá da fronteira há alguns anos, criaram uma geringonça de tal forma desengonçada que, para que a pudessem construir, desconjuraram-se uns quantos que tinham sido apelidados de malandros lesa-pátria não muitos anos antes, num golpe de rins que só alguns conseguem fazer, sendo que a maioria desses alguns são políticos a quem caberia dar o exemplo de ética. Mas o exemplo já tinha sido dado e assim fica mais fácil dar cambalhotas e pontapés na ética, o que ainda mais fácil fica com a liquefacção cerebral fruto das altas temperaturas que se vão fazendo sentir.

Sendo a falta de ética um fenómeno transfronteiriço que passa e pulula facilmente entre países e regiões, quando o interesse maior deixa de ser um interesse comum, de uma comunidade, e passa a ser um interesse comum (que é vulgar, ordinário) de um indivíduo, para quem ética é uma noção com uma capacidade calorífica tão grande que a ser posta em prática até parece que se lhes amolecem as células cinzentas da sua massa cerebral.

Novembro, mês quente a lembrar verão (já não é só o verão de S. Martinho, é o mês todo), tem trazido consigo o calor da asneira generalizada e de atitudes inéticas inéditas.

Como muitas vezes pode ser difícil gerar uma situação por si próprio, a solução é procurar uma “barriga de aluguer”. Que já é legal, tal como noticia o DN na sua edição de ontem: “o governo aprovou, ontem, a regulamentação do regime jurídico aplicável à gestação de substituição, conhecida por barriga de aluguer…”

Nada tenho contra as barrigas de aluguer, as verdadeiras, com a paternidade assumida, que é o que normalmente acontece quando se tratam de pessoas com o conceito de ética bem sólido.

Mas quando passamos do sentido real para o sentido figurado é aqui que a fêmea do porcino retorce o apêndice caudal. Foi assim em Espanha, com vários partidos a servirem de barriga de aluguer para que um homem se mantenha no poder, mas vá lá que aceita a paternidade, tal como tinha sido antes com a gerigonça nacional em que o propósito foi o mesmo, mas que, quando já não era indispensável, foi logo dispensada pelo pai.

Aliás, utilizando figuradamente o conceito, há por aí muito mais “barrigas de aluguer” do que um olhar superficial pode fazer crer.

Quando não há coragem de se assumir a paternidade, é mais fácil recorrer ao subterfúgio de uma “barriga de aluguer”: se a coisa der para o certo reclama-se a paternidade, se der para o torto, renega-se-la, deixando qualquer resquício de ética na rua da amargura, pobre e mal tratada, aproveitada por alguns inéticos propaladores de opinião ou, como se diz actualmente, “opinion makers”, para insidiosamente incendiarem os ambientes de tal forma que sempre haverá cérebros incautos a amolecerem. São os alteradores climáticos da sociedade actual para quem ética é palavra que serve de barriga de aluguer para propósitos pessoais.

E assim vamos em Novembro a caminho do mês da Festa, com governo de aluguer, mas em barriga própria!