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Madeira

Peixe mais valorizado, registo de navios no máximo e cruzeiros a recuperar

Dados sobre a Economia do Mar relativos em grande parte a 2022, divulgados hoje pela DREM

Foto Shutterstock
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Os dados mais recentes da Conta Satélite do Mar (CSM), que tem como objectivo avaliar a dimensão e a importância da Economia do Mar no total da economia regional, estão desactualizados, pois são apenas referentes aos anos 2016 e 2017, sendo que nesse último ano, "a economia do mar representou 10,8% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) regional, 9,8% do emprego e 11,3% das remunerações". Tendo em conta o espaço temporal e o crescimento nas várias vertentes - valor da pesca descarregada, inclusive da aquicultura que 'floresceu', recuperação pós-pandemia dos cruzeiros e um máximo histórico do registo internacional de navios, pode-se inferir que, hoje, a economia do mar da Madeira valerá bem mais do que há cinco anos.

 A informação foi divulgada hoje pela Direcção Regional de Estatística da Madeira e divide, por capítulos, cada um desses segmentos de mercado.

"A pesca é uma atividade tradicional e caraterística da RAM, em relação à qual existe uma longa série de dados estatísticos, particularmente no que diz respeito às descargas de pescado", começa por recordar no 'Em Foco'. "No que se refere às quantidades, e desde o início da Autonomia, os anos de 1990 a 1998 constituíram o período áureo, com um pico em 1995 (13,8 mil toneladas). Nos anos mais recentes, 2019 posicionou-se como o melhor ano dos últimos dezoito, mas as habituais flutuações na pesca do atum e similares determinaram uma forte quebra em 2020 (-39,4%) e uma ligeira recuperação em 2021, +6,7%. Os dados fornecidos pela Direção Regional de Pescas (DRP) mostram que o ano de 2022 se caracterizou por um decréscimo de 9,2% nas quantidades capturadas de pescado, cifrando-se o total anual em 4,7 mil toneladas", refere.

Contudo, explica a DREM, que "quando se analisa o valor da pesca descarregada para um período de quase 45 anos é necessário proceder ao seu deflacionamento, ou seja, remover o efeito da inflação, sendo que 2019 foi considerado, a preços correntes, como o ano em que o valor da pesca descarregada atingiu o valor mais elevado (22,1 milhões de  euros), sendo que o exercício de deflacionamento não altera esta conclusão. Note-se, no entanto, que todos os anos anteriores a 2010 apresentam um valor em termos deflacionados superior a este ano base, tomado como de referência. De sublinhar ainda que o valor (não deflacionado) da pesca descarregada, em 2022, se fixou em 15,6 milhões de euros, subindo 10,5% face ao ano precedente, invertendo, assim, as quebras registadas em 2020 (-34,4%) e em 2021 (-3,0%)", tudo períodos pós-CSM de 2016 e 2017.

Olhando à aquicultura, uma "actividade relativamente recente na Região, mas que tem registado um crescimento assinalável", a DREM realça que "depois do ano recorde de 2021 ao nível da produção (1.566 toneladas), 2022 trouxe nova superação, pois foram produzidas 1.597,4 toneladas de dourada, +2,0% que no ano anterior. Por sua vez, as vendas ascenderam aos 8,4 milhões de euros, crescendo 9,2% face ao ano anterior. Em ambas as variáveis, foram registados, em 2022, máximos históricos, superando os anteriores valores recorde de 2021".

Também o MAR - Registo Internacional de Navios da Madeira "é outro domínio que tem registado também um forte crescimento nos últimos sete anos. Segundo o relatório de Janeiro de 2023 da United Nations Conference on Trade and Development, em termos de número de navios, o MAR situava-se em 25.º a nível mundial e 7.º a nível europeu, enquanto em termos de porte (dead weight) era 13.º a nível mundial e 4.ª a nível europeu".

Em termos concretos, "divididos entre navios de comércio e embarcações de recreio, observa-se que os primeiros aumentaram de forma mais marcada, com o seu número a se fixar, no final de 2022, nos 776, quando, em 2010, era de apenas 142, ou seja, mais que quadruplicou. Quanto às embarcações de recreio, passaram de 86, em 2010, para 118, em 2022", afiança.

Já nos cruzeiros, "embora a série temporal disponível na DREM seja respeitante apenas ao período autonómico, a passagem de navios de cruzeiro pela Madeira antecede em muito esse intervalo de tempo", sendo que "esta atividade tem efeitos positivos no comércio, na restauração, nos transportes, nas agências de navegação e em outros negócios. Segundo a última Conta Satélite do Turismo, referente a 2019, os passageiros dos navios de cruzeiro deixaram mais de 35,8 milhões de euros na Região", ou seja pós-CSM.

"O máximo do número de escalas máximo foi atingido em 2012 (339). Sabendo que em 1976 o número de passageiros em trânsito era de apenas 88,3 mil, fica bem patente o quanto ganhou importância este segmento para a RAM", que apesar da "quebra vertiginosa em 2020, fruto da pandemia da Covid-19, mas, mesmo assim, apenas com cerca de dois meses e meio de atividade, o número de passageiros em trânsito (143,2 mil) foi superior a qualquer um dos valores dos primeiros 21 anos de Autonomia. No último ano disponível (2022), entraram nos Portos da RAM 323 cruzeiros, com 410,3 mil passageiros em trânsito, valores basicamente resultantes da atividade do primeiro e último trimestres desse ano".

Por fim, além do transporte de mercadorias por via marítima, há que contar o transporte de passageiros nomeadamente inter-ilhas. 

"Depois de atingir o seu valor máximo em 2004 (1.629), o número de embarcações de comércio entradas nos portos da Região apresentou uma tendência decrescente até 2013, estabilizando nos anos subsequentes", refere a DREM. "Em 2019, houve uma recuperação, anulada pelos efeitos da pandemia, que fez descer o número de embarcações entradas para o nível mais baixo desde o início do presente século".  Ora, em 2022, "foram descarregadas 1,2 milhões de toneladas de mercadorias nos portos da Região, +13,9% face a 2021 e +10,4% se comparado com 2019" e "carregadas 151,8 mil toneladas de mercadorias nos portos regionais, +4,5% do que em 2021 e +2,3% que em 2019". E aponta claramente: "De notar que as mercadorias carregadas representam uma percentagem muito menor do que as descarregadas, refletindo a dependência da Região do exterior."

Ora, no que toca ao transporte de passageiros (excluindo cruzeiros), que "corresponde, para a maior parte dos anos, exclusivamente àquele realizado entre a Madeira e o Porto Santo (nos outros anos acresce primeiro a linha Portimão-Funchal-Canárias, operada pela empresa espanhola Naviera Armas e, mais tarde, a linha Portimão Funchal, operada pelo Grupo Sousa) registou um crescimento bastante acentuado a partir de 1990 e até 2009, entrando em retrocesso nos três anos seguintes. Em 2013 e 2014, há uma estabilização, para depois entrar em nova trajetória ascendente, interrompida pelo atípico ano de 2020. No ano pré-pandémico de 2019, o número de passageiros na linha Madeira-Porto Santo foi mais de 8 vezes maior que em 1976" e "no ano de 2022 houve uma forte retoma deste indicador com um crescimento de 32,2% face a 2021".

A análise da economia do Mar aborda dados sobre o segmentos dos iates, as praias com bandeira azul, o desporto federado e as actividades de animação turística, todas com ligações ao mar e que acrescem ao VAB, emprego e remunerações do período.

Na sua análise a DREM relança os dados até 2017, em termos absolutos, com "o VAB 'Mar' (Valor Acrescentado Bruto do Mar) da RAM atingiu, em 2017, os 453,1 milhões de euros. Por sua vez, o total de emprego em equivalente a tempo completo (ETC) - definido como o resultante do total de horas trabalhadas dividido pela média anual de horas trabalhadas em postos de trabalho a tempo completo no território económico - foi de 11.135, em 2017. Quanto ao valor das Remunerações 'Mar', em 2017, ascendia aos 222,1 milhões de euros".

Da necessidade de obter novos dados e dado que "a importância da economia do mar está muito relacionada com a relevância da atividade turística na RAM, uma parte substancial da qual é também incluída na CSM", sendo que os últimos anos pré e pós pandemia têm sido dos melhores no capítulo do turismo, a DREM assegura que "os trabalhos preparatórios de actualização da próxima CSM já decorrem, sob coordenação do Instituto Nacional de Estatística", contudo sem se comprometer com uma data de divulgação.