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Ministério da Saúde de Gaza relata "situação miserável" nos hospitais

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Foto EPA

Falta de combustível e bombardeamentos israelitas criaram uma "situação miserável" para o setor da Saúde na Faixa de Gaza, onde já fecharam 12 hospitais e 32 centros de saúde, disse à Lusa fonte do Ministério da Saúde de Gaza.

"Temos feridos a chegar aos hospitais em massa, todas as horas, com escassez de combustível e escassez de medicamentos e produtos hospitalares", disse à Lusa o porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, Medhat Abbas, num balanço do conflito entre Israel e o Hamas, que deflagou a 07 de outubro.

O porta-voz e antigo diretor do hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, descreveu à Lusa que "os feridos estão deitados no chão das unidades de emergência ou à frente das salas de operação".

O único hospital para tratamentos oncológicos na Faixa de Gaza foi hoje encerrado após ter ficado sem combustível e, consequentemente, sem eletricidade, de acordo com o director desse centro hospitalar.

 "Pedimos ao mundo que não deixe que os pacientes com cancro morram desta maneira", apelou em conferência de imprensa o director do hospital Amizade Turco-Palestiniana, Subhi Skaik. 

 O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, confirmou o encerramento do hospital e afirmou em comunicado que os "2,000 pacientes oncológicos" dentro da Faixa de Gaza estão a viver "condições de saúde catastróficas como resultado dos ataques israelitas contínuos".

O grupo islamita Hamas lançou a 07 de outubro um ataque contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, fazendo duas centenas de reféns e matando mais de 1.400 pessoas, na maioria civis.

Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, e respondeu com bombardeamentos diários da Faixa de Gaza e um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.

 O médico Ghassan Abu Sitta, cirurgião de reconstrução plástica no Hospital Al-Shifa, tem partilhado na rede social "X" a situação dramática dentro dos hospitais: "a morte está por todo o lado. Durante a madrugada, uma das técnicas do bloco descobriu que a mãe e o pai foram mortos num bombardeamento israelita".

 Noutra publicação, Abu Sitta diz que o hospital ficou sem produtos para tratar queimaduras. "Temos mais de 70 feridos com queimaduras em mais de 40% do corpo e 80% são crianças", escreveu o médico. Noutra fotografia, mostra uma garrafa de vinagre "da loja da esquina...usada para tratar infecções bacterianas".

"É isto a que chegámos", lamentou.

 O cirurgião Mohammed Obeid, dos Médicos Sem Fronteiras, descreveu uma situação semelhante: "os hospitais estão inundados com pacientes; amputações e cirurgias estão a ser feitas sem anestesia adequada, as morgues estão inundadas de corpos".

 Sem luz, os médicos de vários hospitais têm operado na escuridão usando apenas as lanternas de telemóveis, de acordo com imagens das agências internacionais.

 As autoridades palestinianas acusam Israel de vários "crimes de guerra", entre eles o ataque a infra-estruturas e pessoal médico. Israel rejeita a acusação e diz que os bombardeamentos aéreos têm atingido posições do Hamas.

O Ministério da Saúde do Hamas afirma que 124 profissionais de saúde morreram e 25 ambulâncias foram destruídas.

 "A rede de ambulâncias já não consegue responder a todas as chamadas de emergência e levar os feridos para o hospital, grandes números de feridos e mortos estão a ser transferidos para os hospitais em carros de civis", diz o Ministério.

 As imagens veiculadas por agências internacionais no terreno mostram o fluxo constante de carros não identificados que chegam à porta dos hospitais e de onde saem palestinianos cobertos de pó e sangue, muitos levados em braços por outros civis.

 Com o número crescente de feridos - 21.000 de acordo com as autoridades de Gaza -, e o encerramento de hospitais "não há espaço para receber mais pacientes" nos centros ainda em funcionamento.

 No hospital de Al-Shifa, a ocupação de camas já excede 165%. Apesar de só ter 451 camas disponíveis o hospital está a tratar 748 pacientes, de acordo com as autoridades.

Abbas disse à Lusa que o Hospital Al-Shifa está em risco de encerrar devido à falta de combustível para os geradores. Nos restantes centros hospitalares, o cenário é o mesmo, relatou. 

Israel alega que por baixo do hospital de Al-Shifa se encontram túneis usados para fins militares pelo Hamas e já ordenou a evacuação desse hospital.

 A ONU disse em comunicado que estas ordens de evacuação são "inviáveis" e "uma violação das leis humanitárias internacionais".

"Não há justificações ou excepções a estes crimes", disseram os especialistas da ONU, alertando para "um risco de genocídio contra o povo Palestiniano". 

As autoridades palestinianas e as Nações Unidas têm apelado à entrada de combustível para assegurar eletricidade, de forma a evitar uma "catástrofe humanitária" no território e principalmente dentro dos hospitais de Gaza.

 Desde 21 de Outubro, Israel tem permitido a entrada de comboios de ajuda humanitária que incluem água potável, comida e medicamentos, mas não combustível.

No entanto, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já afirmou que as quantidades de ajuda humanitária a entrar em Gaza são "completamente inadequadas".

 Antes do conflito, 100 camiões entregavam diariamente ajuda humanitária à Faixa de Gaza e em geral 500 camiões entravam no território palestiniano todos os dias com outras mercadorias, incluindo combustível para alimentar as estações de eletricidade e geradores

Desde o início da retaliação israelita, a ajuda humanitária enviada a partir do Egipto viu-se reduzida entre 20 a 30 camiões por dia.

"Isto não é nada. Isto são migalhas", disse à Lusa Alexandra Saieh, diretora para advocacia e políticas humanitárias da "Save the Children". A trabalhadora humanitária salientou que a água enviada para Gaza corresponde a duas garrafas por pessoa por dia, o que "não é o suficiente".

A Save The Children faz parte de uma lista de 650 organizações não governamentais que apelaram não só ao cessar-fogo mas também à entrada de combustível dentro da Faixa de Gaza.

 "Estamos a apelar à comunidade internacional e a todos os partidos envolvidos que autorizem a entrada de combustível. Isto é uma prioridade urgente", diz Saieh.

 Após fechar a passagem de Erez, entre Israel e Gaza, as forças israelitas têm bombardeado as zonas perto da passagem de Rafah, entre o Egipto e a Faixa de Gaza.

 A 24 de Outubro, após a agência das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR) ter dito que iria ter que suspender as suas actividades em Gaza por causa da falta de combustível, as forças israelitas responderam na rede social X: "Perguntem ao Hamas se vos podem dar [algo]".

 Israel diz ainda que o Hamas tem mais de 500,00 litros de combustível dentro de Gaza. A Lusa não conseguiu verificar independentemente esta afirmação.