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Crónicas

Liberal e reformista

1. Disco: Nasceu em Singapura e vive em Londres. Yeule lançou um novo trabalho. Dá pelo nome de “Softscars”. Uma excelente sucessão de músicas bem construídas, num estilo que agora se deu por chamar “hyperpop”. Há um quê de muito humano que perpassa por todo o trabalho, tornando-o muito coerente e intenso. A traumatizante morte de um amigo chegado da artista tem como resultado este surpreendente disco.

2. Livro: “Os Engenheiros do Caos”, de Giuliano da Empoli, é fantástico e lê-se num par de horas. A pôr a leitura em dia e a tentar perceber como chegámos a este momento de pós-verdade. Nomes, factos, acontecimentos que pontuam o caminho para uma espécie de “ditadura da mentira”. Nas redes sociais mora um ruído ensurdecedor manipulado pelo BIGDATA. Poucos a assustar muitos, manipulando-os. Quando ouvirem falar em “política quântica”, tenham medo. Muito medo.

3. Permitam-me que recupere aqui um texto que saiu no outro DN, publicado em plena campanha. Fez parte de uma sequência de textos escritos pelos cabeças de lista de diferentes partidos, que se prontificaram a colaborar.

4. Durante muito tempo, na Madeira, vivemos um espírito de construção. Construímos a Autonomia, os nossos órgãos de governo e estrutura governativa, uma estrutura legal com normativos que nos regem. E depois, ao sétimo dia, sentámo-nos para descansar e nunca mais nos levantámos.

A Autonomia estagnou. Parou no tempo. Gastou o que tinha e o que não tinha, em coisas úteis e em muitas inúteis. Não conseguiu fugir à monocultura do turismo que representa, de forma directa e indirecta, cerca de 45% do PIB. Falhámos na implementação de um sistema fiscal próprio de fiscalidade reduzida.

Aqui chegados só podemos concluir que, em quase 50 anos, perdemos a capacidade de nos reinventarmos. Deixámos de ser reformistas. É, por isso, muito importante que voltemos ao caminho das reformas.

Hoje, quem representa esta capacidade reformista são os liberais. Porque não queremos uma Madeira de salários mínimos, porque temos o direito de desejar o mesmo nível de vida dos que nos visitam. Queremos uma saúde que funcione e para todos. Madeirenses empoderados e com capacidade de decidir o que entendem ser o melhor para si. Uma terra onde a pressão política sobre as pessoas e empresas seja prontamente condenada. Com incompatibilidades nos que exercem a política. Baixa tributação sobre os rendimentos. Uma política de habitação de licenciamento simples e desburocratizado e com impostos reduzidos.

Somos reformistas na saúde porque defendemos a utilização de toda a capacidade instalada para afrontar o enorme problema das listas de espera, uma solução que envolva o público e o privado.

Somos reformistas na economia porque temos propostas concretas para capacitar as nossas empresas, em especial as PME’s.

Somos reformistas porque não admitimos que os impostos travem a criação de riqueza, porque sabemos que sem esta não há desenvolvimento.

Temos propostas concretas para combater a corrupção e dar mais transparência à governação. E isto é ser reformista.

Defendemos a educação como o maior e melhor elevador social. Uma educação pela responsabilidade que seja capacitadora e não uma mera certificação. E isto é ser reformista.

Pensar a Autonomia com responsabilidade, entendendo-a como a melhor ferramenta da madeiridade, do ser madeirense, porque somos reformistas.

Agarrar de frente o problema dos impostos na habitação, que fazem com que quem constrói a sua casa pague mais de 40% de impostos, porque somos reformistas.

Combater a burocracia, tornando a administração mais ágil e eficiente, porque somos reformistas. Por isso somos a alternativa. A alternativa a este “estado a que isto chegou”, que o único que nos dá é a possibilidade de ficar a olhar para a parede lisa de um beco.

Estaremos sempre do lado de uma Autonomia de maioridade, frontal, de democracia e liberdade. Sem medo. Porque a Madeira merece mais. Os madeirenses merecem melhor.

5. Acredito, que no actual estado das coisas, haja quem me considere uma espécie de inimigo político. Foram inúmeras as mensagens que recebi na noite eleitoral e no dia seguinte, cheias de insultos (chamar-me gordo ou obeso, não me insulta de maneira nenhuma, sejam mais imaginativos) e de ameaças de violência. Depois, porque leram a parte como se fosse o todo, ou então não perceberam nada, lá tiveram de engolir os destratamentos. Bem que perguntei “e agora, como é? Vem daí uma desculpa?”.

Que fique claro que não tenho inimigos na política. Tenho pessoas com que não me identifico e adversários, e será sempre assim que os tratarei, mesmo sabendo que os há que, se pudessem, o primeiro que fariam era calar quem como eles não pensa.

O estado de animosidade política a que chegámos ultrapassa tudo o que tenha a ver com verticalidade, honra e ética.

Promete-se o que não compete, fazem-se acusações soezes e maldosas que não se provam, responde-se à natural discordância com insultos, faz-se da parte o todo e do todo uma parte que se inventa.

As eleições não endossam nada disto. Em democracia devem ser o seu momento sagrado. O momento da frontalidade e do saudável debate de ideias. Um momento em que todos devem partir em igualdade de condições, tenham lá o que for para dizer, concorde-se ou não.

Por mais que tentássemos que o debate eleitoral fosse de ideias, não foi. Falou-se da rama e deixou-se a árvore por diagnosticar.

Mais uma vez o exemplo que os ditos grandes partidos têm para dar é zero. E somos todos tratados pela mesma bitola, mesmo os que não alinham nisso.

Depois do triste espectáculo que muitos com responsabilidades partidárias, candidatos ou não, dão diariamente, ainda se admiram da tão reduzida consideração que os madeirenses têm por quem anda na política? Pela abstenção? Pela expressão repetida à exaustão: “vocês querem é tacho”?

Com o que “vemos, ouvimos e lemos”, retirando os que se comportam como zelotas acéfalos, ainda resta quem consiga separar o trigo do joio?

6. E persistem as “picaretas do PS” em fazer que não entendem. Ou então, coitados, não entendem mesmo. Estou, e estarei sempre, disposto a falar com quem me quiser ouvir. A política para o umbigo é característica de quem acha que tudo sabe, para quem vive deslumbrado com o seu ego. Não é o meu caso. Ensinou-me a vida que se “pela boca morre o peixe” no nosso caso, estarmos apaixonados por nós, sermos narcisistas, dá sempre mau resultado.

Termino: não precisará o PS dos votos do PSD, para eleger um vice-presidente na ALRAM? Como o conseguirá se não falar com o PSD? É que ter o direito de propor não assegura a eleição.

Não precisamos conversar para podermos alterar o Estatuto Político Administrativo? Para podermos ter uma Autonomia mais madura?

Não precisamos conversar para avançarmos para outro modelo de fiscalidade? Para termos uma educação mais focada no conhecimento e menos na quantificação? Para estabelecermos princípios que tratem, efectivamente, da saúde dos madeirenses? Não precisamos conversar para serem criados mecanismos de fiscalização e de combate à corrupção e ao nepotismo?

7. Gosto de pessoas inteligentes. Pessoas que me ensinem a olhar para diferentes temas com um olhar mais incisivo e assertivo.

Estive, há pouco mais de uma semana, reunido com um pequeno grupo de jovens. Entendo que esta falta de futuro é a principal razão do alheamento, do desinteresse da juventude para com os assuntos da política. É a falta de expectativas que os leva a partir, deixando para trás a sua terra, a sua família, os seus amigos. Sei do que falo, pois tenho uma filha que foi procurar lá fora o que aqui lhe era negado.

Foi uma reunião fantástica. Criei olhares, entendi angústias e desapontamentos. Vi olhares onde a esperança se esvai. Saí consciente de que temos que repetir estes encontros e tentar montar soluções.

Baixos salários, desemprego, soluções de trabalho apoiadas em estágios que não levam a nada, ‘burnout’, falta de perspectivas de promoção, falta de habitação, impostos altos, nepotismo na administração pública, saúde mental, autoestima, educação desfasada da realidade, falta de sustentabilidade, etc., tudo razões que não tratamos. A Autonomia transformada numa ilha virada para dentro, que tão pouco tem para dar, que não cria razões para ficar.

É urgente pegarmos estes assuntos de frente. O futuro são os nossos jovens.