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Assistencialismo e exploração impedem erradiçacão da pobreza

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Portugal mantém políticas de assistencialismo e uma "exploração da mão-de-obra" que contrariam a erradicação da pobreza, disse hoje à Lusa o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal, defendendo uma organização da sociedade mais equitativa e participativa.

"A pobreza não se resolve só com o emprego. Os que trabalham não têm um salário suficiente para as suas despesas, há aqui uma exploração de trabalho, de mão-de-obra, porque as pessoas trabalham, trabalham, mas com o seu salário não conseguem sustentar a sua família. Este é outro aspeto que é preciso clarificar em Portugal, temos políticas muito assistencialistas e é o que se verifica neste atual orçamento", afirmou o padre Jardim Moreira, em declarações à agência Lusa, na véspera do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala na terça-feira.

De acordo com o responsável pela EPAN em Portugal, o aumento do custo de vida está a afetar a faixa da população tradicionalmente mais vulnerável e a gerar novos problemas: "A classe média, que começa a não ter capacidade de manter o estatuto que tinha, nem a capacidade que tinha de manter as suas próprias habitações. É toda uma vida que se reduz a despesa".

"Com a inflação o dinheiro não chega. As pessoas têm de reduzir as compras. De um modo geral, quem padece mais é a família, porque a casa era grande e vai passar para uma pequena, porque deixa de ter dinheiro para algumas atividades, todos vão ter de cortar", acrescentou.

O presidente da EPAN Portugal, entidade que está a desenvolver uma campanha centrada nos dois milhões de pobres que existem no país, destacou que 40% dos pobres portugueses são trabalhadores.

"Sabemos também que 10% dos trabalhadores portugueses estão em risco de pobreza. Quer dizer que esta corrente ideológica de que a pobreza se resolve só com emprego não é verdade", observou.

Segundo os dados apresentados na campanha da EPAN, 339.000 crianças vivem em situação de pobreza ou exclusão social, uma condição que afeta 502.000 idosos.

Para Jardim Moreira, é necessária "coragem política" para adotar medidas estruturais.

"Aumenta o salário mínimo, aumentam várias medidas, mas não saímos da mesma linha de assistencialismo, quando hoje já se entendeu que para lutar contra a pobreza é preciso proporcionar às pessoas o seu desenvolvimento integral, de todas as suas potencialidades e capacidades, por forma a que ela se sinta feliz na vida, naquilo que é, naquilo que faz", sublinhou.

"Ora, se estamos apenas a dar subsídios, subsídios, subsídios, ficam sempre dependentes e incapazes de poder sair. De tal forma que nós sabemos que em Portugal é preciso cinco gerações para sair da pobreza. Significa que a pobreza é estrutural e as medidas se não forem estruturais apenas mantêm as pessoas na sua situação. Podem dar mais dinheiro, mas também subiu o custo de vida, das necessidades e subiu a inflação. O dinheiro que recebem vai cobrir, se é que cobre, a diferença", prosseguiu o padre que dirige a EPAN em Portugal.

Na opinião do sacerdote, é necessária uma mudança de modelo económico. "Para que haja uma intervenção de fundo é preciso decidir e ter como base se queremos organizar e orientar a sociedade a partir do lucro ou a partir da pessoa humana", referiu.

"A pobreza que mantemos agora e as políticas que temos agora não possibilitam a participação das pessoas em situação de pobreza na solução dos seus problemas, estamos contra a pessoa humana, o ser humano é um ser que existe em relação. Não pode relacionar-se com ninguém, é a comida que lhe dão, tem de comer aquela, é aquele subsídio e ...as pessoas não podem participar, se participam ainda são tidas como mal criadas, há aqui qualquer coisa que não funciona bem", declarou Jardim Moreira.