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Lula anuncia o regresso do Brasil à América Latina num reencontro consigo mesmo

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O Presidente brasileiro, Lula da Silva, anunciou que o país "está de volta à América Latina", depois da "exceção lamentável" da Presidência de Jair Bolsonaro, um regresso que tem "a sensação de um reencontro" consigo mesmo.

"É com muita alegria e satisfação muito especiais que o Brasil está de volta à região e pronto para trabalhar lado a lado com todos vocês, com um sentido muito forte de solidariedade e proximidade", anunciou Luiz Inácio Lula da Silva, num discurso no plenário da cimeira da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) em Buenos Aires.

"Após o resultado das eleições [presidenciais brasileiras, de 30 de outubro], afirmei que o Brasil estava de volta ao mundo. Nada mais natural do que começar esse caminho de retorno pela Celac", prosseguiu o chefe de Estado brasileiro, que iniciou a sua primeira viagem internacional na Argentina, num sinal da prioridade do Brasil pelo seu vizinho estratégico.

O Presidente brasileiro destacou "a missão do Brasil em prol da integração regional desde a redemocratização do país" em 1985, após 21 anos de ditadura militar.

"A exceção lamentável foram os anos recentes, quando o meu antecessor tomou a inexplicável decisão de retirar o Brasil da Celac", disse Lula da Silva, referindo-se a Jair Bolsonaro.

Há três anos, em janeiro de 2020, Bolsonaro retirou o Brasil da Celac com o objetivo de esvaziar a importância do fórum regional, mas, sobretudo, silenciar a voz de Cuba, Venezuela e Nicarágua, os regimes autoritários da região. A Celac é a única organização regional em que Cuba participa.

Foi Lula da Silva quem, em 2010, ao lado do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, ajudou a construir o organismo. Treze anos depois, o Presidente brasileiro volta a colocar o Brasil frente a frente com os vizinhos, depois do isolamento dos últimos anos.

"O Brasil volta a olhar para seu futuro com a certeza de que estaremos associados aos nossos vizinhos bilateralmente, no Mercosul, na Unasul [União de Nações Sul-Americanas] e na Celac. É com esse sentimento de destino comum e de pertença que o Brasil regressa à Celac, com a sensação de quem se reencontra consigo mesmo", considerou Lula.

Lula da Silva defendeu que "a integração será feita em melhores termos" se os países vizinhos "estiverem bem integrados na região".

"Isso não significa que devemos fechar-nos ao mundo", advertiu Lula, indicando julgar "essencial o desenvolvimento e o aprofundamento dos diálogos com sócios extra-regionais, como a União Europeia, a China, a Índia, a ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] e, muito especialmente, a União Africana".

"Para crescermos de maneira sustentável não podemos seguir a ostentar os índices inaceitáveis de pobreza e fome, nem tão pouco conviver com a desigualdade e a violência de género que atingem metade de nossas populações", destacou, com especial ênfase no "respeito pelos povos originários [indígenas]" e no "trabalho para que a cor da pele deixe de definir o futuro dos jovens".

Lula da Silva agradeceu a solidariedade com o Governo brasileiro e pela unânime condenação dos países latino-americanos e caribenhos aos ataques às sedes dos três poderes por apoiantes de Bolsonaro, ocorridos em Brasília no passado dia 08 de janeiro.

"Quero aqui aproveitar para agradecer a todos e a cada um de vocês que se perfilaram ao lado do Brasil e das instituições brasileiras, ao longo destes últimos dias, em repúdio aos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília. É importante ressaltar que somos uma região pacífica, que repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política", disse.

A Celac não se posicionou contra os regimes autoritários de Cuba, Nicarágua e Venezuela.

Por outro lado, Bolívia, Argentina, México e Colômbia defendem o destituído presidente peruano Pedro Castillo (esquerda), que tentou um golpe de Estado no Peru em 07 de dezembro passado. Já o Governo argentino, que condena a tentativa de golpe no Brasil, quer destituir os juízes do Supremo Tribunal argentino.

A presidência anual e rotativa da Celac passa agora da Argentina para São Vicente e Granadinas, nas Caraíbas.