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Gestão danosa

É sabido que o tema “tarefeiros”, no mundo da saúde, tem imenso pano para mangas. Os mesmos são requisitados, quase a preço de ouro (recebem o dobro ou o triplo do pessoal com contrato) para preencher buracos, por falta de profissionais, nos serviços de urgência e nos centros de saúdes desde pequenino país. Muitos dos “tarefeiros” que o atendem, são indiferenciados, o que faz com que nem seja avaliado por alguém da especialidade que procura (falo essencialmente da medicina interna e da medicina geral e familiar, mas não só).

Tendo em mente que o orçamento da saúde tem vindo a aumentar, ano após ano – segundo o nosso primeiro-ministro, desde que o mesmo assumiu o cargo, o orçamento para a saúde aumentou em 40%! – o que significa que estamos a gastar cada vez mais na saúde, e que estes colegas custam muito mais, trabalham menos horas, e têm, na maioria dos casos, um menor grau de diferenciação, quando comparado com os contratados para a realização da mesma função, porque é que os hospitais continuam sem capacidade para contratar profissionais de saúde?

Parece paradoxal, não termos dinheiro para contratar alguém para o quadro, mas termos dinheiro para contratar estes serviços que custam muito mais. Para termos uma noção, ao consultarmos a tabela salarial, um médico já especialista ganha entre 15 a 20€ por hora, brutos (sem descontos) – o vencimento dependerá da progressão da carreira. Um tarefeiro consegue receber 30 a 50€ por hora (ou mais!), brutos. O Hospital de Caldas da Rainha já chegou a pagar 85€ por hora, a médicos tarefeiros, para a realização de serviços na área de ginecologia-obstetrícia. Estes valores, nem os chefes de serviço recebem! Porquê?

A resposta é simples… jogada política. Os hospitais e centros de saúde não têm autonomia (leia-se dinheiro) para contratar. E quando a têm, aumenta a despesa do mesmo, o que é uma grande chatice. Para que não exista esta despesa excedente, são contratadas empresas que disponibilizam prestadores de serviço, os “tarefeiros”, pagando pelo serviço posteriormente. O que significa isto? Muito simples… O serviço é prestado, o tarefeiro recebeu da empresa que o hospital contratou, e o estado, habitual mau pagador, paga depois, não imediatamente. Esta fatura fica na fatia orçamental do “pagamento atrasado”, digamos assim, e não na fatia orçamental da saúde, o que aconteceria se fosse contratado um profissional a tempo inteiro.

Ou seja, o estado prefere apresentar a fatura no saco do “pagamento atrasado”, como outras tantas faturas dos mais variados serviços, que contratar mais profissionais, porque assim esta estaria no saco do “despesas da saúde”. Prefere gastar muito mais, e fazer uma gestão extremamente danosa do dinheiro de todos os contribuintes, para dizer que “gasta menos”.

Dá que pensar na forma como o nosso dinheiro é gerido…