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O Homem-aranha e o Homem da Atlântida

Já vi melhores dias para Marcelo, o homem-aranha. É inegável o seu jeito para lançar teias e ver quem ali fica preso, mas acho mesmo que desta vez foi o próprio que se enredou numa malha difícil de se livrar. Como anda sempre atarefado e com pressa, qual coelhinho da Alice no País das Maravilhas, nem deu pela chegada da mais popular personagem dos últimos dois anos em Portugal: o homem da Atlântida. Quem se lembra da série americana, recorda-se com certeza que o homem tinha capacidades anfíbias, respirava debaixo de água e até resistia a pressões sobre-humanas. Além disso, o seu habitat natural era um submarino chamado Cetacean. Mas também podia chamar-se Barracuda, que isso não importa. O que é engraçado é que o homem-aranha está a tentar arranjar forma de afogar o da Atlântida, desvalorizando as suas capacidades anfíbias. O Quarteto Fantástico espreita, calado, uma oportunidade para aparecer nas cenas, aproveitando um deslize do homem habituado ao mar profundo, mas todos conhecem até onde pode ir o personagem que tem membranas interdigitais e nada mais que os outros todos.

A verdade é que nem Marcelo, perdão, o homem-aranha, sabe como fez isto. Está sentado a ver por que ponta se solta da sua própria teia. Já não lambuza as bochechas com beijos vindos de todo o lado, está relegado para segundo plano num pódio que o próprio mandou erguer, com lugar cativo nos últimos anos. Mas também sabe que não pode correr mais nenhuma maratona. Não tem fôlego para matar o homem da Atlântida e olha para um tabuleiro de xadrez, à sua frente, a traçar estratégias: ou nomeia o atual Chefe do Estado Maior da Armada para Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas em Fevereiro de 2023, aquando da saída do Almirante Silva Ribeiro, e sem querer estende-lhe a passadeira para um cargo de projeção mediática (sobretudo numa altura em que se adivinham de novos conflitos na Europa), ou não o nomeia e Gouveia e Melo cumpre descansado o seu cargo na Marinha, estendendo-lhe a passadeira para dois ou três anos de comentário nas televisões (onde é que já vi isto?), onde o Almirante pode dizer o que quiser por estar fora das Forças Armadas ou, em última instância, o submarinista sai quando entender que é altura de começar a tirar as medidas ao mar profundo.

Partindo do princípio que António Costa, que foi quem o levou ao colo para esta situação, não vai concorrer contra o coordenador da task-force da vacinação contra a Covid 19 e que os outros partidos não têm um Homem da Atlântida, nem uma padeira de Aljubarrota, ou um Dom Sebastião, vai ser giro ver a continuação das sondagens nos próximos tempos. E também pode ser giro ver Gouveia e Melo rir disto tudo em casa de pantufas em janeiro de 2026.