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Até quando?

O contexto pandémico evidenciou a coragem e a capacidade de liderança dos enfermeiros

A Covid 19 não é apenas uma questão de saúde, pois a pandemia alterou a vivência das comunidades e dos povos, interferiu com todos os setores sociais, nomeadamente ao nível laboral, familiar e económico, com implicações que ainda estão por avaliar. Estamos perante uma crise global em que as alterações climáticas e a invasão da Rússia à Ucrânia, agravaram as condições de vida e lançaram direta ou indiretamente milhões de pessoas para a fome e para a pobreza.

Passados mais de dois anos a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou no início de julho do corrente ano que a pandemia originada pela COVID 19 se mantém como emergência de saúde pública a nível internacional, acompanhando para o efeito as recomendações e os respetivos pareceres técnicos. A organização alerta entre outros aspetos para a imprevisibilidade da doença, para a necessidade de continuar a utilizar as medidas de prevenção amenizando o aparecimento de novas variantes e novas linhagens que originaram um aumento de casos em todo o mundo com muitos internamentos e óbitos.

Esta realidade continua a colocar sob pressão os serviços de saúde e os seus profissionais em todo o mundo, num contexto pandémico de crescente exigência nas respostas em cuidados de saúde aos cidadãos, confrontando-nos com uma situação excecional que obriga sistematicamente a reorganizar serviços, unidades funcionais, a alterar horários, circuitos, rotinas e equipas, recorrer frequentemente a trabalho suplementar ainda por compensar, alterar ferias, entre tantas outras situações, num esforço coletivo continuo e sem precedentes.

Os profissionais de saúde que suportam os serviços de saúde são antes de mais seres humanos que cuidam de pessoas, e particularmente os enfermeiros, asseguram a continuidade de cuidados, enfrentando um risco duradouro atendendo à natureza do exercício da profissão, estão e continuarão a estar na linha da frente e em diferentes contextos procurando ultrapassar com proximidade, profissionalismo e conhecimento as constantes dificuldades a bem do utente.

O contexto pandémico evidenciou a coragem e a capacidade de liderança dos enfermeiros, mas também expôs as fragilidades e os problemas do serviço público de saúde, tais como a carência de profissionais nomeadamente enfermeiros, as desgastantes condições de exercício da profissão, a falta de material e a descoordenação em muitas áreas.

A desvalorização do trabalho dos profissionais de enfermagem imposto pela atual carreira, a par de um inadequado e obsoleto sistema de avaliação do desempenho, tem defraudado as expectativas dos profissionais. A inexistente compensação pelo risco e penosidade da profissão, os persistentes obstáculos colocados na correta contabilização dos pontos reconhecendo os percursos profissionais não tem permitido as justas alterações de posicionamento remuneratório. Por outro lado, está ainda em falta a regulamentação da compensação no âmbito da Covid19 prevista no orçamento regional para o ano 2021. Até quando?