Madeira

"A Missa foi o primeiro acto realizado pelos portugueses nesta nossa ilha da Madeira"

Palavras do bispo do Funchal na homilia do Corpo de Deus

None

No texto da homilia da solenidade do Corpo de Deus, que assinala a Última Ceia que teve lugar no dia anterior à crucificação de Jesus, e numa Sé do Funchal repleta de fiéis, o Bispo D. Nuno Brás recorda que “a Última Ceia foi um acontecimento que marcou definitivamente a vida de quantos o presenciaram”.

Lembra que “foram palavras e gestos de tal modo fortes que os relatos ignoram o resto do banquete e todos os ritos judaicos que terão sido realizados”, acrescentou.

“A Última Ceia, unida aos acontecimentos da morte e ressurreição do Senhor, marcou de tal modo os discípulos, que logo os cristãos começaram a celebrar a Eucaristia, transmitindo uns aos outros a sua centralidade. Prova desse lugar central é precisamente o facto de, 15 séculos depois, a Missa ter sido o primeiro acto realizado pelos portugueses nesta nossa Ilha da Madeira”, afirmou esta tarde D. Nuno Brás na homilia da Missa Solene do Corpo de Deus, que precede a procissão e bênção final no adro da Sé.

'Isto é o Meu Corpo' foi o tema central nas três passagens da homilia do Bispo do Funchal. Que começou por assinalar que “vindos de todas as paróquias que integram a nossa diocese, aqui nos quisemos reunir como Igreja, para agradecer ao Senhor o dom da Eucaristia. A Eucaristia é o alimento que dá forças ao nosso caminhar como povo de Deus, Igreja que peregrina ao encontro do Senhor por entre as realidades do mundo, dando testemunho da Sua presença no meio de nós”.

Referindo-se à IIª Leitura, “o mais antigo relato da instituição da Eucaristia”, acrescentou: “Sabemos que S. Paulo o integrou na Primeira Carta aos Coríntios, escrita cerca de 24 anos depois da Páscoa de Jesus. Mas o próprio Apóstolo escreve — como escutámos — que este ensinamento o transmitiu, anos antes, quando, pela primeira vez, visitou a cidade grega de Corinto e ali iniciou uma comunidade cristã. E diz também que, por essa altura, já ele, Paulo, o tinha aprendido dos cristãos de Antioquia”.

Dito isto, concluiu: “A fidelidade na celebração da Eucaristia e a transmissão do seu lugar central na vida cristã foi sempre algo que a Igreja ciosamente cuidou e guardou como o seu maior tesouro”.

Prosseguiu recordando “momentos em que Deus toca a história, toca a nossa vida de criaturas, este nosso mundo! Momentos que não somos capazes de compreender na sua totalidade porque, sendo de Deus, nos ultrapassam de modo radical. Mas como é bom, importante e salutar que Deus se torne presente na nossa vida!”.

Sobre a ressurreição, D. Nuno Brás lembrou que “o Senhor se fez presente aos seus discípulos, durante quarenta dias, o seu Corpo, apesar de real e de ser o mesmo Jesus que viveu antes da ressurreição, tinha manifestações diferentes das que possui um corpo simplesmente natural. São as chamadas “características do corpo glorioso” ou ressuscitado: não está sujeito à corrupção, é capaz de ultrapassar as barreiras físicas do espaço e do tempo, e mostra-se cheio da luz, da vida divina.

Durante os 40 dias em que o Ressuscitado conviveu com os discípulos, Jesus ensinou-os também um novo olhar — real mas diferente: o olhar da fé, que vai para além do natural olhar físico.

Por isso, quando, depois da ressurreição, os cristãos começaram a celebrar a Eucaristia, os olhos da fé foram capazes de reconhecer no Pão e no Vinho consagrados a Presença real do Ressuscitado, o Seu Corpo, ainda que com uma aparência física diferente”.

No sermão do Corpo de Deus sustentou que “apenas uma Presença real pode ter a força que faz da Eucaristia aquilo que ela tem sido para os cristãos ao longo de todos estes séculos, pelo mundo fora. Apenas uma Presença real seria capaz de transformar mentes, corações, vidas, como o fez e continua a fazer a Eucaristia. Apenas uma Presença real poderia dar força aos mártires da Eucaristia — mártires de ontem e de hoje, pois ainda nos nossos dias muitos cristãos são mortos por participarem na Eucaristia. Apenas uma Presença real pode atrair como atrai a Eucaristia. Apenas uma Presença real pode congregar como congrega a Eucaristia".

Assim, só podemos dar à palavra 'memória' — usada também na Última Ceia por Jesus — o valor que (naquele tempo como hoje) os judeus lhe dão nas suas celebrações pascais: quando Deus se torna presente na história, o tempo e o espaço humanos ficam relativizados, de modo a podermos estar presentes aos acontecimentos salvadores, mesmo os do passado”, disse.

Na longa homilia, prosseguiu dando conta que “reunidos para celebrar esta solenidade que nos convida a louvar a Deus por Ele se tornar presente, no meio de nós, através da Eucaristia, sentemo-nos, também nós, à mesa do Senhor. Unidos a Ele, estamos unidos uns aos outros. Aproximemo-nos dele, o Pão da Vida. Deixemos que Ele nos converta e nos transforme.

E demos-lhe graças pelas maravilhas que realiza em nós, por nós e diante de nós. Demos-lhe graças pela Eucaristia, verdadeira presença de Deus e, por isso, alimento da fé. Ela congrega-nos e une cada um de nós ao Senhor e a todos quantos, no passado, nos nossos dias e no futuro, dela se alimentam e nela encontram a força para viver e dar testemunho da salvação que Jesus nos oferece.

Deixemos que esta presença, o Corpo do Senhor, nos guie no nosso caminhar de Igreja diocesana e no caminho da fé de cada um de nós”, concluiu.