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Como percecionamos e nos impacta a passagem do tempo

As experiências cheias de novidade da nossa juventude ocupam mais espaço na nossa memória autobiográfica

É comum ouvirmos dizer que quanto mais velhos ficamos, o tempo parece que corre angustiantemente mais depressa, quando o comparamos com as memórias da nossa infância e juventude, onde parecia que havia tempo para tudo, e os meses de verão aparentavam durar uma eternidade. A sensação de que o tempo acelera à medida que envelhecemos é um dos grandes mistérios da experiência do mesmo. A investigação tem procurado dar respostas a este fenómeno, e algumas explicações remetem para processos biológicos, como a relação da temperatura corporal e a nossa sensibilidade temporal. As crianças têm também maior frequência cardíaca e respiratória, sendo provável que o seu “pacemaker” cerebral seja mais acelerado, permitindo ter mais experiências conscientes no mesmo período de tempo que um adulto. Noutro sentido, uma das primeiras tentativas de explicação foi de Paul Janet, que em 1897 constatou que quando somos mais novos, o mesmo período temporal corresponde a uma fatia maior da nossa vida do que quando somos mais velhos. Para uma criança de 10 anos, 1 ano corresponde a 10% da sua existência e, para uma pessoa de 50 anos, corresponde a 2% da mesma. A perceção de passagem do tempo não seguiria uma distribuição linear e sim logarítmica, suave no início e acelerando cada vez mais no fim. Adrian Bejan, em 2019, teorizou que à medida que envelhecemos, as ligações entre os nossos neurónios complexificam-se, a informação demora mais tempo a percorrer “estradas” mais intrincadas e por vezes com danos, que decorrem do envelhecimento, e o processamento cerebral do que vemos abranda. Isto implica que num mesmo segundo uma criança é capaz de processar muito mais imagens e codificar memórias visuais que um adulto, percecionando que muitas mais coisas aconteceram. Como num filme, quanto mais frames vemos num segundo, a imagem parece avançar mais devagar. Outra hipótese, e que pode ter maior impacto para a forma como conduzimos a nossa vida, é o chamado “paradoxo das férias”: a nossa experiência do tempo varia com o que estamos a fazer e com o seu impacto emocional. Quando estamos numa atividade prazerosa, o tempo aparenta correr mais depressa, mas quando olhamos para trás, parece que aquela conversa ou aquelas férias duraram uma eternidade. Quando somos mais novos as experiências são carregadas de novidade, e estamos constantemente a aprender, porque ainda não vivenciámos algo de semelhante. Assim, criamos mais memórias com impacto, e parece que o tempo se estendeu. Em adultos, já experienciámos muita coisa, e a nossa vida quotidiana acaba por ser mais familiar e rotineira, com menos originalidades. Consequentemente, as experiências cheias de novidade da nossa juventude ocupam mais espaço na nossa memória autobiográfica, e em reflexo parece que duraram mais tempo. A sugestão que daqui se pode retirar, é que se quer lidar melhor com a angústia da passagem do tempo, desacelerar a sua perceção e dar-lhe um maior significado, procure tirar mais proveito do que lhe oferece o momento presente, o aqui e o agora, mantenha o seu cérebro ativo, desafie-se a ter experiências novas e prazerosas, a desenvolver novas capacidades e ideias, conhecer novas pessoas e explorar novos lugares. Experimente.