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Amnistia exige que Líbia investigue milícia por maus tratos a migrantes

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A organização humanitária Amnistia Internacional exigiu hoje que as autoridades líbias abram uma investigação aos líderes da milícia Autoridade de Apoio à Estabilidade pelo seu envolvimento em desaparecimentos forçados, homicídios e tortura de migrantes e refugiados.

"Legitimar líderes de milícias que cometem abusos e colocá-los a soldo do Estado sem os questionar apenas os capacita a continuarem a violar mais direitos de mais pessoas com total impunidade", afirmou a diretora da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e África, Diana Eltahawy.

A responsável referia-se nomadamente ao líder da recém-criada Autoridade de Apoio à Estabilidade, Abdel Ghani al Kikli, conhecido como "Gheniwa" e que é um dos homens mais poderosos da Líbia.

A organização humanitária alegou ter documentado casos de simulacros de execuções, privação de alimentos, espancamentos, choques elétricos, violência sexual e negação de atendimento médico de pessoas reclusas no centro de detenção Al Mayah, sob controlo daquela milícia e localizado a leste de Trípoli, após serem intercetadas no mar ao tentar chegar às costas europeias.

Este centro, explicou a Amnistia Internacional, escapa à supervisão do Ministério do Interior líbio, já que depende diretamente do primeiro-ministro, e recusa-se a fornecer informações sobre o número de pessoas detidas e ou a dar acesso a organizações independentes.

Estes crimes "são mais uma triste recordação de que os refugiados e migrantes intercetados no mar nunca devem ser devolvidos à Líbia. A União Europeia e os seus Estados-membros devem suspender urgentemente toda a cooperação com a Líbia em matéria de migração e controlo de fronteiras", defendeu Eltahawy.

A Organização Internacional para as Migrações denunciou, em fevereiro, a morte de um homem e ferimento de vários outros quando foram intercetados no mar, em viagem para a Europa, por membros desta milícia.

Segundo a Amnistia, a Autoridade de Apoio à Estabilidade, que desempenha um importante papel na proteção dos edifícios oficiais e nas operações de segurança nacional, obteve no ano passado -- o ano da sua criação - um orçamento público de 8,5 milhões de euros, ou seja, cerca de metade do valor destinado a pagar salários.

A organização humanitária referiu ainda que o primeiro-ministro do Governo de Trípoli, Abdelhamid Dbeibah, autorizou, em fevereiro, um novo financiamento de 26 milhões de euros.