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O fracasso da governação PSD/CDS

A forma como lidamos com o fenómeno da pobreza expõe a nossa visão de mundo, define como os poderes políticos estruturam o futuro da sociedade e a importância que atribuem à coesão e à justiça social numa perspetiva de investir na qualidade de vida dos cidadãos.

Debater a pobreza na Região é um incómodo para o PSD/CDS. Soltam logo a propaganda negacionista do sistema, porque discutir as causas e as consequências do círculo vicioso da pobreza significa desmascarar o insucesso das políticas dos governos regionais.

A pobreza é um assunto público e concreto, vivido por milhares de madeirenses, inclusive, muitos com trabalho e salário no final do mês. A pobreza não é uma realidade isolada, é um processo complexo, todavia, os homens e as mulheres, as crianças e os idosos que vivem nesta situação, e na Região estamos a falar de mais de 80 mil madeirenses, não são pobres por culpa própria, porque decidiram voluntariamente viver na pobreza, não são pobres por causas genéticas ou porque viver na pobreza é um estilo de vida agradável, não, estes madeirenses vivem nestas condições por múltiplas razões, mas a principal causa reside no modelo de desenvolvimento imposto pelo PSD que sempre governou, um modelo que produziu as desigualdades sociais e económicas que vivemos hoje.

A governação do PSD/CDS não foi capaz de impedir que a Madeira se tornasse na região do país com a mais alta taxa de risco de pobreza ou exclusão social e após as transferências sociais, a nos colocar também no final da tabela, ao nível da taxa de privação material severa continuamos atrás de todas as outras regiões. Basta percorrer as ruas do Funchal, e imediações, para nos apercebemos de que existem cada vez mais pessoas na condição de sem-abrigo. Temos mais de 1000 idosos em lista de espera para serem colocados num lar ou à espera de uma outra solução de apoio domiciliário.

Além da instabilidade laboral, com contratos precários e salários baixos, existem outros indicadores alarmantes: 51,5% dos madeirenses não têm capacidade para assegurarem o pagamento imediato de uma despesa inesperada sem recorrer a empréstimo e 9,4% não têm capacidade económica para pagar rendas, prestações e despesas correntes.

Cerca de 66% dos alunos das nossas escolas usufruem de apoios da Ação Social Escolar, refletindo a situação social de milhares de famílias que não conseguem sair do limiar da pobreza.

Na Universidade da Madeira, em 2021, 43% dos seus alunos foram abrangidos por uma bolsa de estudos da Direção Geral do Ensino Superior, nos Açores 37 % e no território nacional 17 % dos alunos tiveram acesso à mesma bolsa. A UMa é a instituição de Ensino Superior do país com maior percentagem de bolseiros e a única com valores acima dos 40%.

Estamos ou não estamos a falar de pobreza?

A pobreza não tem idades nem cores, mas tem o rosto individual de cada um dos madeirenses que vivem atormentados com a privação de bens primários, de recursos, de serviços, de necessidades básicas e de qualidade de vida, sem acesso ao princípio da igualdade de oportunidades, em suma, privados dos seus direitos mais elementares.

Assumimos o compromisso de combater uma espécie de discurso de normalização da pobreza que alguns tentam promover, um discurso perigoso e perverso que pretende apenas, por um lado, tentar aliviar as consciências e, por outro, atirar as responsabilidades para cima das próprias pessoas que vivem nessa situação de carência extrema.

O discurso sobre a pobreza na Madeira não pode ser abafado, nem desacreditado, abordar o discurso da pobreza na Região é mais uma forma de exigir a toda sociedade e, principalmente, a quem nos governa que a problemática existe e que necessita de uma intervenção estruturada e comprometida com processos de inclusão e de autonomização, com medidas sociais e económicas que ajudem a reduzir as desigualdades na distribuição de riqueza e bem-estar.

Como dizia o sociólogo Alfredo Bruto da Costa, “A pobreza é um problema político”.