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ONU classifica de "infeliz" e "lamentável" saída do Mali do G5 Sahel

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As Nações Unidas classificaram hoje de "infeliz" e "lamentável" a saída do Mali da organização regional G5 Sahel, avaliando que essa retirada terá um grande impacto na região e que será "um passo atrás" para o Sahel.

Em declarações perante o Conselho de Segurança, que se reuniu hoje para o seu 'briefing' semestral sobre a situação no Sahel, a secretária-geral adjunta para África nos Departamentos de Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz e Operações de Paz da ONU, Martha Pobee, fez um ponto da situação e alertou que o G5 Sahel não convoca uma reunião política de alto nível desde novembro de 2021.

"Como o secretário-geral observou no seu relatório, a desafiadora dinâmica política e de segurança no Sahel, e os resultados incertos das transições no Mali e Burkina Faso em particular, já tiveram impacto na operacionalização da Força Conjunta G5 Sahel, que diminuiu significativamente", disse a diplomata.

"O G5 Sahel não convoca uma reunião política de alto nível desde novembro de 2021. O seu Comité de Defesa e Segurança, órgão que fornece orientação estratégica imediata à liderança da Força Conjunta, também não se reúne há mais de seis meses", observou Martha Pobee.

Após a saída anunciada pelo Mali, a organização regional do Sahel, criada em 2014 e cuja força é composta por cerca de 5.000 soldados desde 2017, está agora reduzida a quatro países: Mauritânia, Chade, Burkina Faso e Níger.

A secretária alertou ainda para a deterioração da situação dos direitos humanos na região, a qual classificou como "motivo de séria preocupação", devido a relatos de graves violações cometidas contra civis, tanto por grupos armados terroristas, como alegadamente por forças armadas e de segurança na região.

"Agora, mais do que nunca, os países da região precisam de intensificar os esforços para defender e proteger os direitos humanos. O desenraizamento de grupos terroristas, que muitas vezes estão profundamente enredados ou inseridos nas comunidades, é um desafio único no Sahel e tornou as operações de combate ao terrorismo imensamente difíceis de realizar", disse.

Contudo, se civis são vítimas de tais operações, "esses mesmos esforços serão inúteis", defendeu a diplomata.

"Isso mostra que os esforços de segurança por si só não são suficientes para enfrentar a crise no Sahel", avaliou Martha Pobee, defendendo uma "abordagem holística", que honre o primado da política, aborde a raiz das causas da pobreza e da exclusão e que procure oferecer oportunidades e vidas realizadas para os muitos jovens da região.

"Precisamos de inovação face às táticas em constante evolução dos grupos terroristas, cuja influência continua expandindo", apelou.

À luz da crescente complexidade da crise que enfrenta o Sahel, Pobee anunciou que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a Comissão da União Africana comprometeram-se em realizar conjuntamente uma avaliação estratégica das iniciativas de segurança e governação no Sahel com o objetivo de fortalecer o apoio ao G5 Sahel, a sua Força Conjunta e outras forças de segurança e iniciativas de governança na região.

Vários diplomatas no Conselho de Segurança reforçaram a sua preocupação com a situação no Sahel, nomeadamente com a presença do grupo russo Wagner no Mali.

"As alegações de violações e abusos de direitos humanos aumentaram significativamente desde que o grupo Wagner foi enviado ao Mali em dezembro de 2021. Wagner também tem um histórico de exploração de recursos naturais e disseminação de desinformação desestabilizadora. Instamos as autoridades do Mali a encerrarem as suas relações com o grupo Wagner, no interesse da estabilidade nacional e regional", pediu a embaixadora do Reino Unido, Barbara Woodward.

Já o embaixador francês junto da ONU, Nicolas de Rivière, lamentou o facto de o Conselho de Segurança não ter chegado a acordo sobre a criação de um gabinete de apoio à força conjunta, financiado por contribuições fixas.

"Isso teria evitado as dificuldades que estamos a ver hoje", avaliou o francês, que pediu ainda investigações nacionais e internacionais à atuação do grupo Wagner.

"Continuamos convencidos de que é vital aumentar o apoio deste Conselho e dos Estados-membros para operações africanas robustas. Sem isso, corremos o risco de ver mais países africanos a recorrer a soluções prejudiciais, como o uso de mercenários", frisou Rivière.