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A verdade que o tempo traz

O tempo não gosta de mentirosos da mesma forma que estes convivem mal com a realidade

O tempo tem a virtude clarificar, de ser honesto e de trazer consigo uma realidade verdadeira e irrefutável, que pode contradizer ou validar aquilo que são adivinhações e projeções. E a realidade que o tempo traz encontra na futurologia semântica um inimigo. O tempo não gosta da mentira e da deceção, e as mentiras não gostam da verdade que o tempo traz. O tempo não gosta de mentirosos da mesma forma que estes convivem mal com a realidade.

No dia 3 de maio no debate mensal na Assembleia Legislativa da Madeira sobre o desemprego, o presidente do Governo Regional disse que, e cito, “a Madeira apresentou a maior quebra na taxa de desemprego no 4.º trimestre de 2021, com uma taxa de 6,6%, sendo que a taxa de desemprego do 1.º trimestre de 2022, a sair pelo Instituto Nacional de Estatística – INE em 11 de maio, deve apresentar uma percentagem ainda menor de desempregados.” Continuando na sua veia profética, Miguel Albuquerque afirmou “aguardamos, sem muita expectativa, o que a nossa oposição vai inventar para denegrir números tão animadores. Vai ser o habitual número circense da catástrofe anunciada, mas nunca concretizada.”

Pois bem, os dados do INE saíram no dia 11 de maio, mas contradizem por completo as projeções do presidente do Governo Regional. A taxa de desemprego na Região não só subiu para 7,5%, como é hoje a mais alta do país.

Não, senhor presidente. Não são números animadores, e não é a oposição que os inventa. É a estatística. É a realidade. A realidade que não gosta de quem tenta números de ilusionismo para iludir as audiências, para enganar os madeirenses e porto-santenses.

A realidade na Madeira são baixos salários, aumento do desemprego, precariedade laboral e trabalho temporário. Uma realidade que Miguel Albuquerque, podendo ter na mão o coelho da cartola da Autonomia, baixando os impostos, prefere não o fazer, optando por outros números que não servem a Madeira.

Mas no que toca a personagens circenses, se já temos o ilusionista, também temos que guardar espaço para outros artistas. Aqueles que entretêm as audiências com a sua fanfarronice. Neste capítulo, também o tempo tem um papel importante a tirar a máscara de quem se faz passar por aquilo não é.

Após meses a fio a assistirmos a um Secretário Regional da Economia em tournée pela comunicação social a anunciar apoios nas linhas Covid de 120 milhões de euros, o tempo veio desmascarar que, efetivamente, só foram pagos 15 milhões.

Após meses a fio a assistirmos a um Secretário Regional de Turismo a fazer previsões de dedo no ar, sobre os dados do turismo sempre acima dos de 2019, terminámos o ano passado com quebras superiores a 30% face a 2019, e fechámos o primeiro trimestre de 2022 ainda 6% abaixo em número de hóspedes entrados e 13% abaixo em número de dormidas, quando comparado com o primeiro trimestre de 2019.

O tempo veio dar razão a quem sempre pediu a verdade. A quem sempre disse a verdade aos madeirenses. A quem sempre disse que os milhões derramados na economia eram uma falácia e que precisávamos de apoios a fundo perdido para as empresas, de requalificar o produto turístico, e sobretudo, de um outro modelo de políticas públicas na Região que privilegie o combate à pobreza e ao desemprego.

O tempo dará razão a quem pede transparência e verdade contra os malabaristas dos números e da opinião pública que escondem buracos financeiros de milhões e distribuem outros tantos sem critério, de forma discricionária por Casas do Povo sem qualquer rigor e sem respeito pelos mais elementares princípios da democracia.

O tempo dará razão ao PS Madeira, desmascarando os artistas circenses que há tempo de mais continuam a fazer todos nós ver o mesmo número repetido vezes sem conta.