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A volúpia do perdão

Contrariando Slavoj Zizek, no livro “Um mapa da ideologia” (ed. Contraponto), no haver coisas em Lenine, Estaline e Trotsky que devem ser aprendidas ou reaprendidas, dizemos nós que a grande lição seria como não fazer certas revoluções e outras andanças pela cabeça calva de Deus, para usar a metáfora do poeta Corsino Forte. Contrariando Alexis de Tocqueville, no livro “Voyages en Sicile et aux États Unis” (ed. Gallimard) de que os americanos se encaram como iguais não apenas perante a lei, mas também ao exercer qualquer atividade social. Dizemos nós que não, o genocídios dos Americanos Nativos, a segregação dos Afrodescendentes, a exploração laboral dos imigrantes latinos e asiáticos. Aqui, avisa-se aos filhos da terra às necessárias desandanças de tais revoluções e evoluções, dado agora de barato pela volúpia do perdão.

Para o nosso cada vez mais enfadado aparato político, estes argumentos ensopados na aguardente de cana não colam. Ponha-se, pois, a nossa confraria de poder e seus grémios políticos a inventar contra-lições depois de lido Zizek, mas duvida-se esteja a tribo capaz de reinvenção da libertação à liberdade por uma meia dúzia outrora dos melhores filhos, ora dos mais democratas, quando as coisas ficaram públicas na boca da república, como anteviu, aqui nós abusando, o poeta Corsino Fortes, tudo não passando de uma frígida classe, incapaz de se suicidar, mas afoita a compor-se na enganosa aparência de realizar o bem comum.

Ele há momentos de renovação dos votos, como gente de Abril que somos, não só porque avessos ao autoritarismo, mesmo de forma tentada em plena democracia, quer como africanos, conscientes do processo histórico, de as lutas pelas independências em África terem sido indutoras evidentes da Revolução dos Cravos. Assim, na segunda passada, de mão junta a um casal amigo, fomos à Avenida da Liberdade celebrar o 25 de Abril, dando largas ao nosso amor incondicional pela (s) liberdade (s) e sonho pela cidadania mais participante e ativa, afã que nos permite também assumir, se há limites em causa, o compromisso com o regime democrático.

Fomos ainda pela guerra que há, não apenas a da invasão à Ucrânia, mas de uma trintena de conflitos acesos e espalhados pelo Planeta, com os povos ensanduichados pelos senhores da guerra ou em êxodo desenfreado – seres humanos desassistidos e injustiçados -, o inferno, onde os crimes acontecem no altar de grandes negociatas e as ocupações se desdobram por lógicas da geopolítica que, ao fim e ao cabo, é o vil metal exacerbando-se no deve-e-haver. E a pornografia das armas para o gáudio de quem as produz e as trafica...no meio de A Peste, de Alberto Camus, que, sazonalmente, relemos.

A fechar, salvando as distâncias (as equidistâncias, diríamos) deste refinado senso dialético, recebam, na linha do Perdoai-lhes, Pai, que não sabem o que fazem, a fraternização em modo versos do poeta Olegário Mariano que dizem o sofrimento é o único bem que fica para a volúpia do perdão!